Lucas Barbosa — “Alien: Romulus” e a identidade da franquia

 

 

Lucas Barbosa, estudante de Letras do IFF e crítico de cinema

Franquia reconhecível

Por Lucas Barbosa

 

Algo muito interessante na franquia Alien acaba sendo a relação autoral de seus filmes. Por mais que, a conexão entre eles pareça meio tênue no tom, mesmo os filmes ruins conseguem se destacar por uma personalidade bem própria. “Alien: Romulus” mantem essa tradição, trazendo junto disso uma grande homenagem à franquia como um todo. É algo positivo, mas ao mesmo tempo, pela mão pesada em alguns momentos, também é quando perde potência.

Fede Álvarez opta por um retorno as raízes da franquia. Ele se utiliza de sua experiência no cinema de horror para construir essa relação de gêneros, priorizando justamente o caráter de terror acima de qualquer coisa. Ele explora as possibilidades da tensão das cenas com maestria. Não é uma direção de caráter pretencioso, que chama para si os holofotes, como grande parte do cinema de horror contemporâneo, optando pelo melhor recurso para cada cena. Assim, Álvarez vai desde o horror corporal até o suspense mais tradicional, utilizando recursos como o da câmera em primeira pessoa, ou da ausência de trilha sonora, com excelência.

De certo modo, a relação com o elenco jovem se liga a essa homenagem, já que o primeiro filme aposta em adequar o cinema slasher, e outros gêneros do cinema lado B, a uma lógica de sci fi de prestígio. Logo, o elenco jovem, bem como o andamento de suas mortes, remete a um tipo de cinema bem próximo a do que o próprio Álvarez trabalhou na sua versão de “Evil Dead”. A ligação com o sexual é mais apagada, mas o filme não perde a disputa de classes como motor, mesmo que agora, essas duas coisas não estejam diretamente relacionadas.

Se no primeiro Alien temos a invasão, ou melhor, penetração dos perigos do capitalismo nas relações do espaço de trabalho opressivo, em “Romulus” temos a penetração desse mesmo sistema em uma desumanização das relações familiares. Essa invasão não se dá com a mesma violência sexual de uma figura fálica como no longa de 1979, mas ainda é potente enquanto dano psicológico. Óbvio que o sexo está presente, pensando em tudo ao redor da personagem Kay. Mas o filme me parece mais preocupado com a consequência dessa invasão, como recurso de sobrevivência, do patógeno, e as consequências dele.

Ainda assim, a relação familiar mais explorada é a irmandade, algo sugerido já pelo título que apela para a história de Rômulo e Remo. Admito que esperava algo mais aprofundado, mas Álvarez não vai além do arroz e feijão do que se espera da franquia. Rain e Andy são bons personagens, mas a natureza de sua relação é simples. São irmãos, não há questionamento sobre isso. Mesmo a artificialidade dessa relação não é algo novo, soa familiar com outros sintéticos da franquia. Eis aqui o grande problema. Nessa relação de homenagem aos filmes antigos, ele perde potência no que é novo, nessas possíveis novas discussões inéditas na franquia.

Sim, “Alien: Romulus” usa muito bem a base dos filmes anteriores. E explora essa mesma base com muito domínio, mas sem ir além dela. Digam o que quiserem de “Alien 4” e “Prometheus”, mas eles tiveram coragem de fazer isso. Não que isso prejudique o todo. Na verdade, talvez o ideal para uma franquia como Alien nesse momento seja justamente essa sustentação no básico. Ao tornar a franquia reconhecível, os envolvidos estão de parabéns.

 

Publicado aqui.

 

Confira o trailer do filme:

 

Felipe Fernandes — Equilíbrio e homenagem em “Alien: Romulus”

 

 

Felipe Fernandes, cineasta publicitário e crítico de cinema

Equilíbrio e homenagem

Por Felipe Fernandes

 

Lançado em 1979, “Alien: O oitavo passageiro” se tornou um clássico. Referência quando pensamos em horror no espaço, o filme gerou várias continuações, prelúdios, um universo expandido em games, livros, quadrinhos, tornando o Xenomorfo uma das criaturas mais famosas da sétima arte.

Eis que chega aos cinemas “Alien: Romulus”, longa que busca abrir uma nova ramificação dentro da mitologia da franquia, expandindo a narrativa. Situado entre os dois primeiros filmes, a história acompanha um grupo de jovens mineradores, dispostos a fugir da miséria no planeta em que vivem. Controlados por uma mega corporação, eles fogem para uma estação espacial abandonada. Lá, encontram um local destruído e habitado por criaturas mortais, forçando-os a lutar por sua sobrevivência.

“Romulus” é o primeiro filme a explorar um planeta propriamente dentro das questões relacionadas à corporação Weyland-Yutani. Acompanhamos um grupo de jovens mineradores, que vivem em um planeta insólito, presos em um regime de quase escravidão. A corporação é provavelmente a grande vilã da franquia, já que tudo o que acontece é em decorrência da ganância da empresa.

Escrito e dirigido pelo cineasta uruguaio Fede Alvarez, chama a atenção como o filme é cuidadoso com o restante da franquia. Além de referenciar diversos elementos de praticamente todos os filmes, chegando ao ponto de repetir cenas e diálogos — homenagens que nem sempre funcionam —, existe uma preocupação com questões de continuidade. O design de produção da estação espacial repete exatamente o visual da nave Nostromo do filme de 1979. Os computadores, os formatos dos corredores, são níveis de detalhes muito interessantes.

O filme funciona como um híbrido entre os dois primeiros filmes, buscando um equilíbrio entre o suspense do filme de Ridley Scott e a ação do filme de James Cameron. Alvarez é bem sucedido nessa proposta, ainda que principalmente em sua segunda metade, o filme ganhe uma ação hiperbólica, que remete mais a “Alien: A ressurreição”. Mas se o filme de Jeunet remete a um quadrinho, aqui temos uma versão para as novas gerações, com uma ação acelerada, digna de um game.

Um elemento interessante é a mistura de efeitos práticos com CGI, outro ponto de equilíbrio que funciona muito bem, construindo um visual orgânico. E que reforça a sensação de ameaça constante, que pode vir de qualquer lugar.

Uma característica da franquia que sempre me chamou a atenção é o fato de, a cada novo filme, nós descobrirmos um pouco mais sobre a natureza fisiológica dos Xenomorfos e toda essa relação parasitária com outras espécies. “Romulus” expande essa questão, agregando questões como maternidade e o corpo feminino, temas já abordados em longas anteriores e que, aqui, ganham outra abordagem.

Agrada-me a forma como o roteiro de Alvarez trabalha a dinâmica entre os personagens. Ainda que nenhum deles receba um grande desenvolvimento, nem mesmo a protagonista, a sequência do grupo no planeta é muito eficiente nessa construção. Cria um senso de unidade que funciona, muito também pela economia de personagens. É um grupo pequeno.

Em outra constante na franquia, o andróide David é uma boa adição, se tornando peça central no embate entre o cuidado entre a vida humana e os interesses da corporação. As mudanças que o personagem sofre no decorrer da trama o tornam um personagem ambíguo, reforçando a sensação de perigo.

“Alien: Romulus” consegue ser um filme que funciona como uma grande homenagem ao misturar elementos de praticamente todos os filmes anteriores, mas consegue ter o mínimo de personalidade. Alvarez se arriscou ao construir uma narrativa na busca do equilíbrio entre escolhas estéticas e narrativas. Cria um longa consistente, que se não chega perto dos dois clássicos originais, ao menos se prova um ponto positivo na franquia, com potencial para renovar seu público.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Confira o trailer do filme:

 

Reeleição no 1º turno com teto de 70% dos votos válidos?

 

Murillo Dieguez, Wladimir Garotinho, Makhoul Moussallem, Madeleine Dykeman e Jefferson de Azevedo (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Especialista em pesquisa crê no 1º turno

“Hoje, acredito em eleição (de Wladimir Garotinho, PP, a prefeito) no 1º turno. Embora ninguém ganhe de véspera e a campanha vá começar no dia 30, até a divergência pública com os pais favorece Wladimir, porque quebra a resistência histórica ao garotismo na 98ª (Zona Eleitoral de Campos, a chamada ‘pedra”). As premissas: aprovação de governo, baixa rejeição, imagem, referência ao governo anterior (Rafael Diniz, Cidadania). Não é sempre que quadra tudo a favor. Mas está tudo quadrando”, foi o que disse no Folha no Ar da manhã de ontem o empresário Murillo Dieguez, colunista da Folha e diretor do instituto de pesquisa Pro4.

 

Teto de 70% dos votos válidos?

Com a expertise de quem detectou em pesquisas do instituto Pro4 a ascensão eleitoral de Rafael, que levou este à vitória no 1º turno a prefeito de Campos em 2016, Murillo afirmou: “Wladimir bateu no teto, mas numa margem em que não posso dar número”. Perguntado se esse teto seria, hipoteticamente, de 60% de intenções de voto, ele respondeu: “Acho que esse teto é maior nos votos válidos” (descontados os brancos e nulos). Indagado se esse suposto teto seria de 70%, Murillo confirmou ao programa Folha no Ar: “Em torno de 70% dos votos válidos, minha impressão é que ele tem uma margem por aí. Mas não há vitória antecipada”.

 

“Pau do circo da economia campista”

“Não tenho dúvida nenhuma que essa eleição (a prefeito de Campos) será da continuidade. Tudo que tenho visto aponta isso. É uma percepção não só da aprovação do governo, como de outros dados correlatos. Mas isso não pode vir acompanhado da soberba. Há questões muito sérias no município que precisariam ser tocadas de maneira diferente numa próxima gestão. Mais de 90% da população acredita que Campos não pode só depender dos royalties, tem que ter um novo modelo de desenvolvimento econômico. O pau do circo da economia campista é o governo municipal”, advertiu o empresário e especialista em pesquisas.

 

“Quem vai ser o Makhoul dessa eleição?”

Apesar do favoritismo de Wladimir à reeleição como prefeito, Murillo acredita que “essa eleição pode vir a credenciar alguns atores ao cenário político de Campos. Hoje, a Delegada (Madeleine Dykeman, União) e o professor Jefferson (Azevedo, PT) brigam por isso. Não os vejo capazes de ameaçar a reeleição. Mas quem vai ser o Makhoul (Moussallem, saudoso médico e candidato a prefeito de Campos pelo PT em 2012, quando foi bem votado em 2º lugar, mas a então prefeita Rosinha se reelegeu no 1º turno) dessa eleição? Se Madeleine ou Jefferson, isso vai depender da construção da campanha”.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Confira no vídeo abaixo a entrevista de Murillo Dieguez ao Folha no Ar de terça:

 

 

Questionamento do PT ao Ideb de Campos é questionado

 

Índide de desenvolvimento de Educação Básica (Ideb), Eduardo Shimoda, George Gomes Coutinho, Jefferson de Azevedo e Wladimir Garotinho (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Questionamento ao Ideb questionado

O crescimento na nota de Campos (confira aqui e aqui) no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não foi produzido artificialmente pela aprovação automática dos alunos do ensino fundamental. Foi o que afirmou à coluna Eduardo Shimoda, professor de Estatística e Indicadores de Qualidade da Educação no Doutorado em Planejamento Regional e Gestão da Cidade da Candido Mendes. Após o prefeito Wladimir Garotinho (PP) comemorar (confira aqui) o Ideb e ser questionado (confira aqui) pelo professor Jefferson Azevedo, ex-reitor do IFF e candidato a prefeito do PT, Shimoda ressalvou: “o resultado será explorado politicamente em ano de eleição municipal”.

 

Mais conhecimento dos alunos

Após analisar os dados do Ideb de Campos e do RJ, aferidos na multiplicação dos números de aprovação pelos do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Seab), Shimoda concluiu: “Nos anos iniciais, de 2021 a 2023, o índice de aprovação aumentou de 91% para 95%, a nota Saeb aumentou de 5,13 para 5,74 e o Ideb foi de 4,70 para 5,40. Parece que a proficiência dos alunos melhorou e aumentou a aprovação. Com mais conhecimento dos alunos, a aprovação aumenta. Não há indício que o aumento do Ideb foi produzido ‘artificialmente’ por aumento da aprovação. O índice de aprovação de Campos foi igual à média do Estado do Rio”.

 

“Ideb não muito bom, mas melhorou”

“O Ideb de Campos não mostrou resultado muito bom, mas de fato melhorou. O município era o 85º entre 91 municípios fluminenses na nota Saeb de 2021. E, em 2023, passou para 69º entre 92 municípios. ‘Pedalada’ seria aumentar o nível de aprovação, que em Campos subiu muito pouco, de 91% a 95%. Se os alunos passassem sem saber, seria inútil, porque o Ideb tenderia a cair em 2025. A aprovação não é a causa do aumento do Ideb. Foi a nota Saeb, ao subir de 5,13 a 5,74, demonstrando uma proeficiência melhor dos alunos, que aumentou a aprovação. Não foi maquiagem, os alunos é que estão sabendo mais”, lecionou Shimoda.

 

Questionamento político

O questionamento de Jefferson foi questionado também pelo cientista político George Coutinho, professor da UFF-Campos: “O PT local só não explicou por que, se há problema no Ideb, ele não está no instrumento de avaliação do MEC? Que está nas mãos do PT, o Camilo Santana do PT. Ao tentar desmoralizar o prefeito, se desmoraliza o instrumento. O PT local resolveu, por tática eleitoral, atacar Wladimir. Se houver um hipotético 2º turno sem o PT, ele vai apoiar a candidatura de Madeleine, de extrema-direita de fato? São 5.565 municípios no Brasil. Se maquiar é tão simples, por que não tivemos a explosão no Ideb Brasil afora?”

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Empresário e especialista em pesquisas no Folha no Ar desta 3ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Empresário, colunista da Folha da Manhã e diretor do instituto de pesquisa Pro4, Murillo Dieguez é o convidado do Folha no Ar desta terça (20), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele analisará o governo Lula3, sua relação com o Banco Central e o empresariado brasileiro, que votou majoritariamente no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022.

Por fim, com base nas pesquisas, Murillo tentará projetar as eleições a prefeito de 6 de outubro, daqui a 48 dias, em Campos (confira aqui, aqui e aqui), São João da Barra (aqui e aqui) e Macaé (aqui). E analisará a correlação entre aprovação de governo e favoritismo à reeleição (confira aqui e aqui) dos prefeitos dos três e outros municípios da região.

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta terça poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, nos domínios da Folha FM 98,3 no Facebook e no YouTube.

 

Welberth com governo aprovado e favorito à reeleição em Macaé

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Governos bem avaliados são favoritos à reeleição. Universal, a regra vale aos municípios do Norte Fluminense às eleições a prefeito de 6 de outubro, daqui a 48 dias. Pesquisa do instituto Paraná, feita entre 15 e 18 de agosto, com 680 eleitores e sob o registro RJ-05616/2024 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), deu ao prefeito de Macaé, Welberth Rezende (Cidadania), 70,3% de intenções de voto na consulta estimulada. Na margem de erro de 3,8 pontos para mais ou menos, é o mesmo número da sua aprovação de governo: bom (39,3%) ou ótimo (33,2%) para 72,5% da população macaense.

ESTIMULADA — Na consulta estimulada (com a apresentação dos nomes dos candidatos), os 70,3% de intenção de voto do prefeito Welberth são seguidos de longe pelo ex-prefeito Dr. Aluízio Júnior (PDT), com 10,7%; Danilo Funke (PSB), com 2,9%; Fábio Pereira Passos (Avante), com 1,8%; e Felício Laterça (PP), com 0,7%. Não souberam ou quiseram responder 6,8%, enquanto outros 6,8% disseram que votarão branco, nulo ou em nenhum.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

APROVAÇÃO DE GOVERNO — Quanto à aprovação da administração Welberth, além dos 33,9% que a consideram ótima, boa para 39,3%, regular para 18,2%, ruim para 3,8% e péssima para 3,5%, enquanto 1,9% não souberam ou não opinaram. Em outra métrica, quando o eleitor é perguntado apenas se aprova ou desaprova o governo municipal de Macaé, 85% disseram aprovar e 12,1% desaprovar, com 2,9% que não souberam responder ou opinar.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

CONSULTA ESPONTÂNEA — Apesar da grande vantagem do prefeito à reeleição, a consulta espontânea (onde o eleitor fala em quem vai votar da própria cabeça) mostra uma eleição matematicamente ainda aberta. Se a liderança de Welberth na corrida aparece com 43,2% de intenção de voto cristalizada, seguido dos 2,1% de Dr. Aluízio, 0,7% de Funke e 0,3% de Fábio, com 0,9% que citaram outros nomes, a maioria de 46,6% ainda não souberam ou não responderam, com 6,6% de ninguém/branco/nulo.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

REJEIÇÃO — Todavia, para avançar sobre esses eleitores ainda indecisos, a rejeição mostra outra dado favorável a Welberth e incomum ao desgaste natural de quem está no poder. O mais rejeitado é Dr. Aluízio, com 41,5%. Ele veio seguido por Funke, com 22,8%; Laterça, com 16,8%; Fábio, com 14,3% e Welberth, com apenas 8,1% de rejeição. Não souberam ou não responderam em quem não votariam 17,5%, enquanto outros 7,4% poderiam votar em todos.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em estatística pelo IGBE

ANÁLISE DO ESPECIALISTA — “Com amostragem de 680 eleitores, grau de confiança de 95% e margem de erro de até 3,8 pontos, a pesquisa apresenta qualidade técnica respeitável. A 48 dias das urnas de 6 de outubro, Macaé tem 182.529 eleitores habilitados a votar, o que significa eleição de turno único. Nesse cenário, o instituto Paraná Pesquisas projeta reeleição do atual prefeito Welberth Rezende, numa sondagem também com os nomes dos candidatos Dr. Aluízio Júnior, Danilo Funke, Fábio Pereira Passos e Felício Laterça. Na consulta espontânea, Welberth aparece com 43,2% das intenções de voto, enquanto na estimulada, sua intenção sobe para 70,3%. Welberth também é o candidato com a menor rejeição (8,1%), na comparação com os concorrentes, e beneficia-se de uma avaliação de governo considerada ótima ou boa por 72,5% do eleitorado macaense. Assim, tudo o mais constante, a tendência é de reeleição de Welberth Rezende em Macaé”, projetou William Passos, geógrafo com especialização doutoral em estatística pelo IBGE.

 

Favoritos na guerra, na política e no basquete de Paris

 

O francês Victor Wembanyama, com 2,24m, é encoberto pela parábola da bola do armador Stephen Curry, de 1,88m, antes dela cair na cesta e marcar mais 3 pontos para os EUA, na final vencida contra a França na Olimpíada de Paris (Foto Getty Images)

Nem sempre os favoritos vencem. Maior conflito bélico da humanidade, a II Guerra Mundial durou seis anos: de 1939 a 1945. Ao final de junho de 1940, após invadir e conquistar Holanda, Bélgica e França no espaço pouco mais de seis semanas, e entrar com suas tropas marchando em Paris sob o Arco do Triunfo de Napoleão, a Alemanha nazista de Hitler era a grande favorita do confronto. Só que hoje, oito décadas depois, o mundo fala inglês, não alemão.

O favoritismo nazista se inverteu falando russo, na definição da Batalha de Stalingrado, em fevereiro de 1943. Após bater a biltzkrieg germânica, a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) só pararia em Berlim. Onde pôs fim, à bala, ao conflito na Europa. Enquanto todos os outros Aliados juntos, liderados pelos EUA, completavam o serviço do outro lado. É consensual entre historiadores e militares que foi o esforço de guerra em duas frentes que esgotou a Alemanha.

Maior teórico moderno da guerra, o alemão Carl von Clausewitz a definiu como “a política por outros meios”. E, na política, favoritos também acabam derrotados. Antes das eleições presidenciais dos EUA em 2016 e de governador do estado do Rio em 2018, Hillary Clinton e Eduardo Paes eram os respectivos favoritos a vencer em todas as pesquisas. E, como se sabe, Donald Trump acabou eleito à Casa Branca e Wilson Witzel ao Palácio Guanabara.

Seja no voto popular direto do sistema brasileiro ou no mais complexo do colégio eleitoral estadunidense, onde o presidente é eleito na soma de delegados de cada estado, os institutos de pesquisa fizeram ajustes metodológicos a partir de seus erros em 2016 e 2018. Como as companhias aéreas em seus procedimentos de checagem de equipamento e pessoal após cada acidente fatal no meio de transporte comprovadamente mais seguro.

Possíveis só a partir do advento hoje mais compreendido e mensurável das redes sociais, talvez o Trump de 2016 e o Witzel de 2018 sejam a exceção que confirma a regra. Como a endossaram os lulopetistas de 2018, os trumpistas de 2020 e os bolsonaristas de 2022, a regra é quase sempre a mesma: quem questiona pesquisas eleitorais sérias durante a campanha vai chorar a dor de corno no quente da cama com o resultado da urna.

Dos favoritos que se confirmam, nas pesquisas e bolsas de aposta, os exemplos são tão mais numerosos que é difícil escolher. Entre os mais recentes e marcantes mundialmente, há o da seleção de basquete masculina dos EUA na Olimpíada de Paris. À qual só levou sua força máxima após a provocação do velocista estadunidense Noah Lyles. Que disse após o Boston Celtics ser campeão da NBA em 17 de junho:

— Tenho que ver as finais da NBA e vê-los se chamando de “Campeões do Mundo”. Campeões mundiais do quê? Dos Estados Unidos? Não me leve a mal, eu amo os EUA, às vezes, mas não somos o mundo. Aqui (no Mundial de Atletismo), sim, somos o mundo. Aqui todos os países estão representados, lutando para ganhar. Na NBA não existem bandeiras. Devemos fazer mais. Devemos representar o mundo.

 

 

Após as principais estrelas dos EUA na NBA terem esnobado o Mundial de Basquete de 2023, no qual sua seleção nacional não passou do 4º lugar, o veterano astro LeBron James viu na provocação de Lyles uma janela de oportunidade. Convocou seus maiores rivais de geração na NBA, Stephen Curry e Kevin Durant, e os outros grandes jogadores estadunidenses da liga para Paris. E naturalizaram o pivô camaronês Joel Embiid para o jogo de garrafão.

Na estreia contra seu adversário sabidamente mais duro, os EUA bateram a Sérvia por 110 a 84. E fecharam a fase de grupos com 103 a 86 contra o Sudão do Sul e 104 a 83 sobre Porto Rico. Nas quartas de final, amassaram o Brasil por 122 a 87. E quando todos pensaram que viria outro passeio na semifinal, em outro confronto com a Sérvia, veio o maior susto do basquete masculino dos EUA em Paris.

Atrás do placar nos três primeiros quartos de jogo, os EUA só conseguiram virar no último após o astro sérvio Nikola Jokić cometer a quarta falta. Pendurado, ele não pôde ajudar mais na marcação efetiva, sob o risco de ser eliminado pela quinta falta. E, com quatro jogadores de fato na defesa adversária, brilhou a estrela de Stephen Curry. Que virou o placar com a última das suas 9 bolas de 3 pontos no jogo, a 2 minutos do fim. Final: EUA 95 a 91 Sérvia.

Curry impressionou não só pelo que jogou contra a Sérvia. Mas porque, até ali, em Paris, não tinha sido nem uma pálida sombra de quem comandou o Golden State Warriors em quatro títulos da NBA. E, pelo que fez na final do último sábado (10) contra a França, dentro da França, ele passou à história do basquete e das Olimpíadas. Acertou quatro arremessos de 3 pontos nos últimos 3 minutos de jogo. E deu a vitória e o ouro aos EUA por 98 a 87.

Na guerra, na política, nos esportes e na vida, nem sempre os favoritos vencem. Nem o brilho do ouro costuma ser tão contraditório e complementar quanto o de Nyles, nos 100 metros rasos de Paris, e de LeBron. Como se fossem EUA e URSS irmanados na II Guerra.

Mais rara que a vitória dos azarões é a parábola da bola de Curry.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Escola e festival de cinema à pergunta de Tonico sobre Campos

 

Darcy Ribeiro em entrevista nos anos 1990 diante do Solar dos Jesuítas, onde funcionaria a Escola de Cinema no projeto original da Uenf, e o Festival de Cinema Internacional que está no projeto para Campos em 2025 (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Campos é uma cidade de cinema? Em artigo publicado em 13 de julho (confira aqui) os cineastas Fernando Sousa e Gabriel Barbosa, escrevendo a seis mãos com o sociólogo Roberto Dutra, professor da Uenf, tentaram responder em detalhes a essa pergunta.

Mas a resposta mais assertiva viria se a Uenf, que hoje comemora 31 anos de fundação, retomasse seu projeto inicial de um curso de graduação em cinema. Como a reitora Rosana Rodrigues garantiu (confira aqui) estar em seu planos, em entrevista ao programa Folha no Ar no último dia 9:

Rosana Rodirgues, reitora da Uenf, no Folha no Ar do dia 9

— Uma das minhas intenções é cravar uma bandeira na Escola de Cinema da universidade. A gente acompanhou a história dela lá atrás e sabe que o modelo hoje de docência na Uenf não guarda muita relação com o que a gente tem na formação de recursos humanos na área de Cinema e de Comunicação de um modo geral. Mas entendo que a gente precisa fazer um movimento concreto e definitivo na direção de termos, sim, uma Escola de Cinema na universidade.

Nessa perspectiva de retomada do projeto inicial do antropólogo Darcy Ribeiro à Uenf, com uma Escola de Cinema, e no projeto atual de um festival de cinema internacional para Campos em 2025 (confira aqui), o ator campista Tonico Pereira gravou um vídeo. Para tentar responder à pergunta: Campos é uma cidade de cinema?

Sob a direção de Fernando, que também é doutorando em sociologia política da Uenf, e de Gabriel, ambos também diretores da produtora de cinema carioca Quiprocó Filmes (confira aqui), assista abaixo ao vídeo com o grande Tonico. E, em seguida, o texto produzido pela assessoria da Quiprocó:

 

 

No dia em que é comemorado o aniversário de 31 anos da Uenf, o cineasta Fernando Sousa, que é doutorando do programa de pós-graduação em sociologia política da universidade, lança vídeo em mais uma parceria com Gabriel Barbosa, o professor Roberto Dutra e Felipe Ink, também aluno de pós-graduação da instituição.

Com narração do ator campista Tonico Pereira, a produção foi realizada a partir de um conjunto significativo de materiais de arquivo, que reúne imagens e acervos raros da região. São resgatadas desde cenas do curta-metragem “Memória Goitacá” (1978), passando por imagens das obras da universidade. E até uma visita de uma comitiva integrada por Darcy Ribeiro e o primeiro reitor da Uenf, professor Wanderley de Souza, ao Solar do Colégio, enquanto se planejava lá a criação da Escola de Cinema.

Campos dos Goytacazes, que possui uma rica cultura cinematográfica com tradição na realização de cineclubes, já contou com cerca de 70 salas de cinema. A cidade serviu de locação para filmagem de novelas e obras cinematográficas, tais como: “Escrava Isaura” (1976) de Walcyr Carrasco; “Na boca do mundo” (1978) de Antonio Pitanga; “Ganga Zumba” (1963) e “Xica da Silva” (1976), de Cacá Diegues. Localmente, destacam-se “Sobre o domínio da fé” (1995) de Maria Helena Gomes; “Forró em Cambahyba” (2013) de Vitor Menezes e “Faroeste Cabrunco” (2022) de Vitor Van Ralse.

A proposta do vídeo “Campos é uma Cidade de Cinema” é uma celebração do projeto da Uenf e mais um marco na retomada de criação da Escola de Cinema, projeto originalmente pensado no bojo de criação da universidade na década de 90.

Fernando Sousa, cineasta e doutorando em sociologia política na Uenf

— A proposta do vídeo, ao mesmo tempo em que celebra o projeto original da Uenf, exalta a relação histórica de Campos e da região com o cinema brasileiro, destacando grandes obras e personagens, como é o caso da campista Zezé Motta e Tonico Pereira, entusiasta do projeto e que faz a narração do vídeo. É uma alegria poder contribuir com a retomada do projeto da “Escola de Cinema”, celebrando o aniversário de 31 anos da Uenf, último grande projeto do antropólogo e educador Darcy Ribeiro. Precisamos entender o que inviabilizou o projeto lá atrás e trabalhar na construção de uma nova proposta adequada aos desafios atuais da região e do mercado audiovisual brasileiro — disse Fernando Sousa

A proposta do curso de Cinema está sendo tratada com prioridade no âmbito do Plano de Desenvolvimento Institucional do Centro de Ciências do Homem da Uenf. Nesse segundo semestre, com o objetivo de conhecer outras experiências que possam subsidiar o novo projeto, estão sendo planejadas visitas técnicas aos cursos de cinema da Universidade Federal Fluminense, à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e à Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Ainda na esteira das ações diretamente relacionadas à proposta, encontra-se em fase de planejamento a realização do Festival Internacional Goitacá de Cinema. Entre as suas atividades estarão  mentorias para projetos audiovisuais, encontros de negócios, mostras de filmes nacionais e internacionais, e o Seminário de Cinema e Audiovisual do Norte e Noroeste Fluminense.

A Quiprocó Filmes é uma produtora audiovisual independente, sediada no Rio de Janeiro, que busca provocar mudanças através de um olhar inquieto. Criamos imagens atentas às histórias, emoções e afetos, a partir de diferentes vozes, transformando a maneira que as pessoas vêem suas próprias vidas e os diferentes elementos da nossa cultura. Criamos conteúdo para Cinema, TV e streaming. Produzimos conteúdo publicitário e institucional para organizações e empresas.