Lucas Barbosa — “Alien: Romulus” e a identidade da franquia
Franquia reconhecível
Por Lucas Barbosa
Algo muito interessante na franquia Alien acaba sendo a relação autoral de seus filmes. Por mais que, a conexão entre eles pareça meio tênue no tom, mesmo os filmes ruins conseguem se destacar por uma personalidade bem própria. “Alien: Romulus” mantem essa tradição, trazendo junto disso uma grande homenagem à franquia como um todo. É algo positivo, mas ao mesmo tempo, pela mão pesada em alguns momentos, também é quando perde potência.
Fede Álvarez opta por um retorno as raízes da franquia. Ele se utiliza de sua experiência no cinema de horror para construir essa relação de gêneros, priorizando justamente o caráter de terror acima de qualquer coisa. Ele explora as possibilidades da tensão das cenas com maestria. Não é uma direção de caráter pretencioso, que chama para si os holofotes, como grande parte do cinema de horror contemporâneo, optando pelo melhor recurso para cada cena. Assim, Álvarez vai desde o horror corporal até o suspense mais tradicional, utilizando recursos como o da câmera em primeira pessoa, ou da ausência de trilha sonora, com excelência.
De certo modo, a relação com o elenco jovem se liga a essa homenagem, já que o primeiro filme aposta em adequar o cinema slasher, e outros gêneros do cinema lado B, a uma lógica de sci fi de prestígio. Logo, o elenco jovem, bem como o andamento de suas mortes, remete a um tipo de cinema bem próximo a do que o próprio Álvarez trabalhou na sua versão de “Evil Dead”. A ligação com o sexual é mais apagada, mas o filme não perde a disputa de classes como motor, mesmo que agora, essas duas coisas não estejam diretamente relacionadas.
Se no primeiro Alien temos a invasão, ou melhor, penetração dos perigos do capitalismo nas relações do espaço de trabalho opressivo, em “Romulus” temos a penetração desse mesmo sistema em uma desumanização das relações familiares. Essa invasão não se dá com a mesma violência sexual de uma figura fálica como no longa de 1979, mas ainda é potente enquanto dano psicológico. Óbvio que o sexo está presente, pensando em tudo ao redor da personagem Kay. Mas o filme me parece mais preocupado com a consequência dessa invasão, como recurso de sobrevivência, do patógeno, e as consequências dele.
Ainda assim, a relação familiar mais explorada é a irmandade, algo sugerido já pelo título que apela para a história de Rômulo e Remo. Admito que esperava algo mais aprofundado, mas Álvarez não vai além do arroz e feijão do que se espera da franquia. Rain e Andy são bons personagens, mas a natureza de sua relação é simples. São irmãos, não há questionamento sobre isso. Mesmo a artificialidade dessa relação não é algo novo, soa familiar com outros sintéticos da franquia. Eis aqui o grande problema. Nessa relação de homenagem aos filmes antigos, ele perde potência no que é novo, nessas possíveis novas discussões inéditas na franquia.
Sim, “Alien: Romulus” usa muito bem a base dos filmes anteriores. E explora essa mesma base com muito domínio, mas sem ir além dela. Digam o que quiserem de “Alien 4” e “Prometheus”, mas eles tiveram coragem de fazer isso. Não que isso prejudique o todo. Na verdade, talvez o ideal para uma franquia como Alien nesse momento seja justamente essa sustentação no básico. Ao tornar a franquia reconhecível, os envolvidos estão de parabéns.
Publicado aqui.
Confira o trailer do filme: