Wladimir completa 100 dias de governo sob análise da sociedade civil

 

Nota 7,5. De 0 a 10, esta foi média das avaliações feitas pelos seis entrevistados neste painel sobre os 100 primeiros dias do governo Wladimir Garotinho (PSD), completos hoje (10), à frente de Campos dos Goytacazes. Graves e complexos são os problemas que afetam diretamente a realidade diária dos mais de 511 mil campistas. E nenhum deles desconhecido. Tanto a pandemia da Covid-19, que entre abril de 2020 e abril de 2021 já matou oficialmente 910 pessoas na cidade — nos cartórios já superaram os mil óbitos desde o fim de março —; quanto a grave crise financeira do município. Esta foi detalhada na série de 11 painéis promovidos pela Folha sobre o tema, de julho a setembro de 2020 (confira aquiaquiaquiaquiaqui, aquiaqui, aqui, aquiaqui e aqui), com 34 representantes da sociedade civil. Entre eles, cinco voltam aqui para analisar os 100 primeiros dias da gestão Wladimir. Em ordem alfabética: a servidora municipal Elaine Leão, presidente do Siprosep; o cientista político Hamilton Garcia, professor da Uenf; o especialista em finanças Igor Franco, professor do Uniflu; o professor Jefferson Manhães de Azevedo, reitor do IFF; e o empresário José Francisco Rodrigues, presidente da CDL-Campos. Pela gravidade da crise sanitária, aos cinco de juntou o médico infectologista Nélio Artiles, professor da FMC. Se há certo otimismo, natural aos inícios de governo, nenhum dos seis ignorou a grande dificuldade dos problemas presentes. Nem a complexidade daqueles que governo e governados têm pela frente.

 

Servidora municipal Elaine Leão, presidente do Siprosep; cientista político Hamilton Garcia, professor da Uenf; especialista em finanças Igor Franco, professor do Uniflu; professor Jefferson Manhães de Azevedo, reitor do IFF, empresário José Francisco Rodrigues, presidente da CDL-Campos; e médico infectologista Nélio Artiles, professor da FMC (Montagem: Joseli Mathias)

 

Folha da Manhã – Ainda que pouco, 100 dias costuma ser um período emblemático de avaliação de qualquer governo. Que nota de 0 a 10 daria à gestão Wladimir Garotinho? Como a justificaria? Qual a principal virtude, erro e dúvida sobre a administração?

Elaine Leão – Pela atual crise financeira do país, sei que diversas reivindicações não serão atendidas. A virtude é o diálogo. E os principais erros a ausência de calendário de pagamento, o não recebimento do 13º. Estes erros frequentes na folha de pagamento adoecem o servidor. Nota 6,5.

Hamilton Garcia – Nota 7: com uma equipe experiente e especializada, a maioria formada nas faculdades da cidade, o prefeito imprimiu um perfil técnico a seu governo, o que é muito bom diante do histórico da cidade. O problema é saber se ele próprio terá temperança para seguir este caminho, em meio à tradição de loteamento de cargos, apadrinhamento de recursos públicos, entre outras práticas nada republicanas que marcam a política local e nacional. E se terá disposição de enfrentar os privilégios econômicos associados às práticas ilegais de financiamento/enriquecimento político, correntes por aqui.

Igor Franco – Estou positivamente surpreso com a gestão. Acho que uma nota 8,5 não é excessiva. Wladimir vem sendo bem-sucedido na sua estratégia de engajamento nas redes, demonstrando as ações da Prefeitura e “colocando a mão na massa”, num estilo muito parecido com o imposto por João Doria na Prefeitura de São Paulo. A principal virtude tem sido a comunicação direta com a população; o maior erro foi a injustificável liberação de celebrações religiosas durante o lockdown; a maior dúvida é quanto ao nó fiscal que terá que começar a ser desatado nessa gestão.

Jefferson Manhães de Azevedo – Não é possível ser tão cartesiano em um cenário político, econômico e sanitário tão nebuloso e complexo no qual estamos imersos. Como não considerar as dificuldades inerentes de qualquer início de governo, especialmente como consequência de um processo eleitoral postergado, com prejuízos no tempo para a transição de governo e formação de equipe, em um quadro eleitoral disputado e diante da maior crise planetária experimentada nos últimos 100 anos, agravada por uma “desconcertação” nacional? Apesar de qualquer avaliação neste momento sugerir precocidade e simplificação de análise, vejo o início de um governo que está tentando “apagar incêndios” e buscando dialogar. Por esse esforço, daria uma nota 8.

José Francisco Rodrigues – Qualquer avaliação de gestão em um período que estamos vivendo não pode ser exata. Nas condições em que assumiu o cargo, com salários atrasados do funcionalismo e outras pendências, seria impossível uma nota máxima. Diante desta questão da pandemia, no tocante ao comércio, tomou decisões acertadas e algumas equivocadas, mas em um quadro de compreensão. São raros os prefeitos eleitos no passado que alcançariam um grau de satisfação 10 dos diversos segmentos. Dou nota 8 nestes 100 dias.

Nélio Artiles – É muito difícil fazer uma avaliação precisa em um momento tão atípico como estamos vivendo. Porém considerando todas as adversidades enfrentadas, vejo que o Wladimir teve uma performance positiva, impedindo uma situação ainda pior. Muito difícil enfrentar crises, porém vejo com bons olhos o secretariado, tendo a maioria boa competência técnica. Eu daria uma nota 7.

 

Folha – O principal problema de Campos, como de todo o Brasil sob governo Jair Bolsonaro (sem partido), é a pandemia da Covid-19. Apesar das muitas críticas, esse foi um ponto em que o governo Rafael Diniz (Cidadania) foi bem avaliado. No governo Wladimir, como analisa?

Elaine – Em nenhum dos dois governos tivemos o lockdown verdadeiro e necessário nos momentos de pico. Como também nunca temos a fiscalização necessária em relação ao decreto. No tocante ao servidor, há necessidade ainda de aumento percentual do adicional de insalubridade e de melhores condições estruturais.

Hamilton – Até agora o prefeito parece disposto a enfrentar os interesses imediatos para preservar a saúde pública. O problema central da pandemia, todavia, é como educar a população a seguir os protocolos de saúde indicados para o momento, em meio a uma inédita politização dos temas sanitários, a partir de Brasília, mas não restrita à ela. Quanto ao setor saúde, a reestruturação prometida deve levar tempo e, de novo, estará sob teste a temperança governamental para enfrentar os interesses corporativos que, juntos aos patrimoniais, constituem a espinha dorsal da crise brasileira.

Igor – Entendo que Wladimir vem tomando boas medidas para combater a pandemia. Em especial, foi bastante corajosa a postura de manter o lockdown por mais uma semana na cidade. Não há dúvidas de que a situação do comércio é desesperadora e que há um risco relevante para a popularidade do Prefeito. Entretanto, dados os números atuais, medidas mais rigorosas por mais tempo são necessárias para evitarmos um colapso completo do sistema de saúde. E, embora seja tentador pensar o contrário, o descontrole da pandemia vai onerar ainda mais a economia da cidade.

Jefferson – Uno-me àqueles que avaliam como destacada as ações de combate à pandemia do governo Rafael, como também julgo sábia a decisão de manutenção de muitas dessas ações no governo Wladimir. Aprendi em minha vida, como gestor público, que sempre é possível fazer melhor aquilo que estamos fazendo. Além disso, admiro a grandiosidade de gestores que buscam fazer o melhor, sem a necessidade egocêntrica de autoria. O sucesso da gestão pública não é pessoal, mas uma vida melhor para todos.

José Francisco – Antes focaram todos os esforços montando inclusive uma Centro de tratamento para combater pandemia. Wladimir já chegou com uma nova e forte onda da pandemia e uma demanda ainda maior. Conseguiu ampliar o número de leitos de UTIs e está focando nisso. Wladimir está dando continuidade, e temos que compreender equívocos e aplaudir acertos. Visivelmente está fazendo todo o possível para minimizar os efeitos desta tragédia.  Temos que torcer para dar certo.

Nélio – Sem dúvida é preciso reconhecer que a Saúde teve uma condução adequada no governo de Rafael Diniz, frente aos novos desafios postos, sendo capaz de criar o CCC, com um atendimento digno e eficaz, assim como uma atuação da vigilância em saúde competente. Fico feliz que no governo de Wladimir, apesar das mudanças realizadas e considerando estarmos em um novo cenário desafiador, a condução tem sido eficiente, mesmo enfrentando um colapso nesta área, com leitos hospitalares em seu limite máximo.

 

Folha – Rafael fez um lockdown, entre maio e junho de 2000. Wladimir fez dois, um logo em janeiro, e o atual, na fase até aqui mais dura da pandemia. Com o ritmo lento da vacinação no Brasil e 66 pessoas na fila de espera por leito em Campos, vê outra saída? Qual?

Elaine – Vacina é uma dificuldade no país. O lockdown é inevitável diante do descompromisso da população e da falta de fiscalização efetiva do governo. A saída é melhorar a estrutura hospitalar, conscientizar e punir a população que não respeita os decretos.

Hamilton – O confinamento não pode ser panaceia; ele deve ser indicado apenas para as regiões onde ocorrem aglomerações, até para que possa haver fiscalização efetiva. Não adianta de nada bloquear praias que, mesmo no alto verão, não têm densidade alguma, salvo alguns pontos específicos. O que vale nas epidemias é, além de evitar as aglomerações, inclusive no transporte público, mudar a postura do cidadão numa região onde lavar as mãos depois de ir ao banheiro nunca foi um hábito e o respeito ao espaço alheio é ficção; vide a crise recente das descargas das motos.

Igor – A saída definitiva será através da vacina, mesmo que futuramente precisemos de doses de reforço. Enquanto a vacina não chega em número suficiente para controlar a pandemia, provavelmente precisaremos entremear medidas de maior rigor com relaxamento para que a atividade econômica não colapse. Imaginar uma imunização em massa antes do primeiro semestre, hoje, me parece excesso de otimismo.

Jefferson – Como não temos vacinas suficientes, e de acordo com a maioria dos especialistas na área, a única saída possível para enfrentar o estágio da crise sanitária e o colapso dos sistemas de saúde do país é um verdadeiro lockdown nacional. Experimentamos poucos ‘fechamentos’ corretos e eficientes, especialmente no Brasil. Os que de fato ocorreram em algumas poucas cidades brasileiras e em vários países no mundo, sejam eles nacionais ou regionais, tiveram comprovados efeitos em uma drástica diminuição do contágio e das mortes e, por conseguinte, estas cidades e países terão as vantagens econômicas futuras por terem saído primeiro da crise sanitária.

José Francisco – Essa é uma questão delicada. No primeiro lockdown de Wladimir, diante do exposto, pelas autoridades sanitárias e médicas, compreendemos a medida. No segundo, participamos das reuniões, a exemplo da primeira e também apoiamos. Mais um terceiro fechamento na semana seguinte, o comércio não suportaria. A questão como você bem colocou é a vacina. Precisamos apressar e sabemos que o prefeito está fazendo todos os esforços neste sentido. Somos testemunhas disso.

Nélio – Infelizmente a situação é muito complicada, pois há falta de centralização na gestão da saúde pública do país, com o entra e sai de ministros e falta de uma liderança maior. Há inversão nas prioridades, com investimentos em ações distantes da ciência, postergando a aquisição de vacinas e fomentando aglomerações e o não uso de máscaras. Apesar de sofrida, a única forma de melhoria do cenário seria manter a restrição da circulação das pessoas, de uma forma regrada e fiscalizada, já que nosso país não consegue um lockdown total.

 

Folha – Na segunda (05), o governo Wladimir decidiu manter o lockdown. Mas, após protestos do comércio, anunciou na terça (06) a reabertura gradativa a partir do dia 12. Como também na terça o CCC anunciou a incapacidade em atender qualquer novo doente, vê lógica na decisão?

Elaine – Não vejo lógica nessa decisão. Calibrar a balança economia e saúde não é uma tarefa fácil. Porém, diante do descaso da população e da falta de fiscalização efetiva, abrir gradativamente significará mais contaminados e mais mortes na cidade.

Hamilton – O confinamento deve ser imposto onde e quando necessário, e não deve se ater ao centro da cidade. É preciso mapear os subcentros espalhados por todo o território e planejar a fiscalização com base neles. É preciso também que se multem não só os estabelecimentos que infringem as leis sanitárias, mas também o cidadão, quando isto for pertinente, como no caso das festas ilegais, o não uso das máscaras e qualquer forma de aglomeração provocada pela intenção deliberada dos indivíduos.

Igor – Do ponto de vista sanitário, o ideal seria um lockdown mais restrito e por maior prazo. Porém, mais de um ano depois da eclosão da Covid-19, poucos negócios, mesmo os saudáveis, têm capacidade de permanecer fechados. Não se trata, obviamente, de equiparar vidas a empregos, mas simplesmente reconhecer que, a partir de determinado ponto, a própria eficácia do distanciamento mais rigoroso começa a perder tração. O relaxamento à frente pode funcionar com uma espécie de fôlego para a eventual necessidade de um novo fechamento à frente.

Jefferson – Aprendi com Boaventura de Sousa Santos que “desaparecendo a ideia de que há um poder que está injustamente criando injustiça social, as vítimas viram-se contra as vítimas”. Neste momento, todos estão pagando uma conta muito alta pela incompetência na gestão da crise sanitária nacional. É triste e trágico, mas nosso país está sendo considerado um pária e uma ameaça mundial. Somos o “laboratório” do que não se deve fazer em uma crise sanitária.

José Francisco – Eu poderia dizer que o comércio fechado não impediu o colapso, assim como um especialista em saúde diria que se o comércio estivesse aberto o problema seria maior. O comércio não é o vetor do vírus. Trabalhamos seguindo à risca todos os protocolos para proteger nossos colaborados e consumidores. O prefeito está certo em flexibilizar a partir da próxima semana. A curva achatar e o ritmo da vacinação aumentar, a segurança aumenta. Essa reabertura seguirá padrões sanitários. Existe lógica em buscar soluções sim.

Nélio – A situação que enfrentamos, nos leva a um afastamento de uma lógica racional. O colapso da rede de saúde está diretamente relacionado a falta de responsabilidade no comportamento das pessoas, com reuniões e aglomerações indevidas. Campos não está fazendo um lockdown, mas uma restrição parcial à circulação, com o fechamento dos potenciais espaços de aglomeração. Com a inevitável reabertura do comércio, há necessidade de uma fiscalização mais precisa, com limitações efetivas nos espaços públicos e privados.

 

Folha – A crise financeira de Campos vem do final de 2014, na gestão Rosinha, com a queda brusca no preço do barril de petróleo. Arrastou-se durante no governo Rafael e, em consequência da Covid, deve piorar no de Wladimir. Como este a vem enfrentando? Qual a alternativa?

Elaine – A alternativa é aumentar a receita municipal com exploração de outros setores, principalmente agricultura, por ser uma vocação regional, buscando novas fontes diversas à dependência do petróleo. É preciso um bom gestor para fazer a cidade funcionar de verdade.

Hamilton – O preço do petróleo tem oscilações e no momento se verifica certa recuperação. Mas sabemos que seus dias estão contados pela tendência à diminuição da demanda, em função das inovações tecnológicas e das mudanças de hábito das novas gerações. O caminho imediato é voltar a apostar nas vocações locais para a produção, o que deve ser pensado em conjunto com a política de educação/qualificação da mão de obra, que é o que todos o países retardatários, da Alemanha à China, passando pelo Japão e Coreia do Sul, fizeram no século passado. E nós, não.

Igor – Durante o período eleitoral, já afirmei à Folha que a atuação do novo governo municipal seria, a princípio, mera gestão de fluxo de caixa. Parece que o meu diagnóstico estava correto. Desde o início do mandato, a vitória é manter os compromissos mais urgentes em dia, como repasses aos hospitais e as folhas de pagamento. Não vejo ambiente político para a discussão ou proposição de medidas com efeitos estruturais sobre o caixa do município neste momento. Porém, é essencial ter mapeadas as propostas a serem encaminhadas para tratar do problema.

Jefferson – “Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar”, dizia Antonio Machado. É lamentável quando ouvimos vozes que simplificam as complexidades. Provavelmente fruto de imaturidade daqueles que nunca foram testados em processos de gestão. As respostas vão sendo construídas na trajetória de gestão. Algumas acertadas, outras equivocadas. É preciso ter capacidade para analisar os cenários e antecipar ações, assim como a humildade e perseverança para dialogar na construção das respostas, avançando e retrocedendo quando necessário.

José Francisco – Já damos o primeiro semestre deste ano como perdido, mesmo reabrindo na próxima semana. Estimo que mais de 25% das empresas, a maioria micro e pequenas, não terão condições de reabrir. No segundo semestre será possível uma reação com a maioria das pessoas vacinadas, mas definitivamente esse não será um ano econômico bom. Se você pagar a queda dos repasses dos royalties e os custos com a pandemia, você terá o que os americanos chamam de a tempestade perfeita.

Nélio – A crise de município vem há mais tempo, sendo porém, mascarada pela passividade do recebimento dos royalties, que não foram ao meu ver investidos na infraestrutura necessária para um desenvolvimento diversificado nas diversas áreas, como agropecuária, turismo, energia limpa, reciclagem ambiental, etc. Com o déficit atual deve-se buscar novos recursos, seja em parcerias público privadas, novas articulações políticas e na academia, onde mentes pensantes, embasadas nas diversas ciências, mostrem novos caminhos, trazendo principalmente a inovação.

 

Folha – Na série de 11 painéis da Folha sobre a crise financeira, de julho a setembro de 2020, com 34 representantes da sociedade civil, três opções foram consensuais: retomada da vocação agropecuária, parceria com as universidades e pregão eletrônico. Vê elas sendo tentadas?

Elaine – Não, ainda não estão sendo tentadas. Por consequência da crise sanitária ou por falta de tempo, uma vez que se passaram apenas 100 dias. Cabe a gestão um pontapé inicial que não fique somente nos discursos.

Hamilton – As vocações locais terão que ser reinventadas e isto só será possível em parceria com as universidades, que terão que se reinventar também, passando a responder não só às demandas de produtividade da burocracia acadêmica federal, mas se voltando também para a solução dos problemas nacionais/locais, o que parece ser uma vontade latente. Naturalmente, isso leva tempo, pois teremos que vencer muitos obstáculos, inclusive o da primazia da burocracia sobre o trabalho, e das demandas corporativas/patrimoniais sobre os interesses sociais.

Igor – Em linha com a minha última afirmação, por mais desejáveis e urgentes que sejam essas iniciativas, não me parece haver foco em qualquer outra coisa que não seja manter os serviços públicos mais básicos funcionando e tratar as mazelas da pandemia atual. Seria ótimo ser surpreendido por iniciativas como as mencionadas na pergunta, porém, com a escassez de recursos humanos e financeiros agravada pela pandemia, não é possível criticar o governo pela demora em atuar em outras frentes.

Jefferson – Gostei muito da indicação do prof. Almy (Júnior) na liderança da pasta responsável pelas políticas da agropecuária de nosso município, assim como o prof. Marcelo Feres responsável pela Educação, Ciência e Tecnologia. Dois egressos do espaço acadêmicos e com laços fortíssimos nos ambientes de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Acredito que colheremos bons frutos ao longo do tempo. Não sou um profundo conhecedor das ações do governo, porém, pelas informações que tenho, há um esforço para que o pregão eletrônico seja finalmente consolidado.

José Francisco – Certamente a provocação de vocês da Folha, no bom sentido, foi perfeita. No segmento da cana-de-açúcar as duas usinas de Campos produziram R$ 500 milhões, e essa safra deve ser melhor. O agronegócio está salvando o país e poderá em médio prazo salvar Campos. Temos a Uenf e outros órgão de pesquisa para fazer isso virar realidade. No orçamento municipal, a verba para a agricultura aumentou, não o ideal, mas já é um avanço. O pregão eletrônico pós-pandemia terá que ser uma realidade.

Nélio – Não faço parte desse métier, porém como descrito na pergunta anterior, percebo, sim, um atraso no desenvolvimento agropecuário e nas parcerias técnicas. É preciso investir em uma policultura, já que sabemos que nossas terras são ricas e férteis, além de nossa vocação nesta área. As regras de licitação também precisam ser revistas e modificadas, para um uma administração pública mais azeitada, valorizando as diversas áreas de apoio aos negócios.

 

Folha – Não chegou a ser consensual nos painéis da Folha sobre a crise, mas muitos sugeriram o enxugamento da máquina pública municipal, diante da queda irreversível da arrecadação. Como vê a questão, inclusive com a contratação de mais terceirizados pela atual gestão?

Elaine – Discordo com veemência com o desmonte do serviço público. Os servidores já estão há seis anos sem reajuste nenhum, onde muitos ganham salário base, menos de um salário mínimo. Existe, sim, a necessidade de uma gestão eficiente para gerar mais receitas.

Hamilton – A grande revolução é inaugurarmos o recrutamento, em todas as formas, sob a égide do mérito, ou seja, tendo em mente o objetivo do setor a ser suprido pelo corpo técnico e não o inverso, como costumam fazer os corporativistas, sejam do trabalho ou dos negócios, e os patrimonialistas. A máquina pública foi feita para servir ao público, não a determinados grupos privados empoderados, sejam oligárquicos, sindicais ou empresariais. Essa dura lição foi aprendida, alhures, nas revoluções burguesas dos séculos passados, que nós não vivenciamos.

Igor – Também à Folha, já frisei a grande dificuldade dos governos municipais de realizar algum tipo de reforma ampla no funcionalismo que gere efeitos duradouros sobre a folha de pagamento. A contratação de terceirizados, cujo gerenciamento é muito mais flexível que o de servidores, não é um mal por si. Porém, a vigilância da imprensa e dos órgãos de fiscalização sempre é recomendável, de forma que essa ferramenta não vire instrumento eleitoral ou para atendimento de interesses que não sejam o do município.

Jefferson – Há um tempo necessário para avaliar o dimensionamento adequado dos recursos humanos de qualquer organização, especialmente aquelas que atuam intensamente em atividades de serviços, como governos municipais. É preciso especial atenção aos serviços públicos de atendimento à sociedade em um período de crise colossal, onde a população está ainda mais fragilizada e necessitando, urgentemente, de saúde, escola e assistência social com maior efetividade.

José Francisco – É outra questão delicada. Se não estão fazendo cortes, gestores estão pelo menos evitando contratar. A Prefeitura não tem condições de alimentar uma imensa folha de pagamento, enquanto suas receitas despencam. E, desta forma, não existem investimentos. Não vamos cair naquela história de demonizar o funcionalismo, mas a situação é grave. Temos que ter um funcionalismo eficiente e respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal. É preciso fazer cortes em vários segmentos da administração pública, como na folha de pagamento.

Nélio – Temos a ciência que a folha de pagamento de nosso município ultrapassa os valores de segurança, para uma administração pública responsável e efetiva. É preciso recadastramentos, estudos setoriais de serviços e uma avaliação bem conduzida, através de um planejamento estratégico responsável. As terceirizações podem ser soluções, mas não de forma linear, havendo a necessidade de um olhar diferenciado, de acordo com suas atividades fins.

 

Folha – Os terceirizados são uma maneira conhecida do prefeito manter base de apoio parlamentar e governabilidade. Como vê a questão? E a relação entre Wladimir e a Câmara, quase sem oposição e presidida por Fábio Ribeiro, aliado e correligionário do prefeito?

Elaine – A realidade política nacional é proximidade do Executivo com o Legislativo, o que fere a independência dos Poderes. E, por isto, entendo como prejudicial. Na condição de presidente do sindicato dos servidores, não apoio as contratações de terceirizados. Não só por aparentar essa “troca de favores”, mas também pela falta de direitos trabalhistas.

Hamilton – Se o Prefeito tiver a disposição de fazer o que deve ser feito em prol da recuperação da cidade, então o controle sobre a Câmara será uma vantagem. Agora, se ele ceder à tentação imediatista e à tradição, como fez Rafael, isto pode acabar no mesmo atoleiro político anterior. Uma boa maneira de evitar este caminho é apostar num diálogo mais amplo com a sociedade, de modo a dissipar pressões e encontrar suporte para enfrentar os interesses particularistas aninhados na Câmara e na própria sociedade civil.

Igor – A vigilância quanto ao correto uso dos contratos de terceirização é papel da Câmara, do MP, do TCE e da imprensa. A possibilidade de contratar funcionários sem a execução de concursos, que impõem ônus de longo prazo aos cofres públicos, é uma válvula de escape nesse momento delicado das contas públicas em todo o país. Quanto ao relacionamento com a Câmara, me parece que há um peso considerável da mobilização coletiva para combate à pandemia. Não espero que o prefeito passe todo o mandato sem ser cobrado pela oposição.

Jefferson – Construir maiorias nos parlamentos, seja municipal, estadual e federal me parece imperativo no modelo democrático e republicano em que vivemos. Imaturidade é criar a ilusão de que isso não é necessário, como ocorreu nas eleições de 2018. O resultado estamos assistindo em tempo real. A grande questão é a maneira de construir estas maiorias e qual é o “preço” e a “moeda de troca”. O correto deveria ser o diálogo, o convencimento e as maiorias, quem sabe, temáticas. Mas, infelizmente, o mundo real de nossa cultura política é mais complexo e, como dizem, “não é para amadores”. Triste!

José Francisco – Essa questão dos terceirizados, o prefeito tem acenado com a disposição de não incorrer neste erro, pois sabe da necessidade de cortes como disse na resposta anterior. Quanto à questão da falta de oposição na Câmara isso pode ser ótimo, como pode ser horrível. Dentro de um espírito público republicano, governar com maioria é uma dádiva, mas friso que republicanamente, com responsabilidade. E acreditamos que o prefeito Wladimir esteja perseguindo essa linha juntamente com Fábio Ribeiro.

Nélio – O prefeito Wladimir tem um bom histórico parlamentar, apesar da pouca idade e experiência, e com isso tem apresentado boa articulação no Legislativo, levando-se em conta o momento favorável à sua administração. Porém, em um regime democrático, é extremamente importante a oposição de ideias e palavras, pois permitem novas visões e novos caminhos. Os cenários vão se modificando com o passar dos anos, mas o mais importante no momento é estarmos em um mesmo lado, no enfrentamento de um único inimigo, o vírus SarsCoV-2.

 

Folha – Se tivesse, dentro da sua área de especialidade e atuação, que fazer uma pergunta a Wladimir, resumindo-a em três linhas de word como as que lhe foram feitas nesta avaliação dos 100 primeiros dias de governo dele, qual seria?

Elaine – Quais medidas o governo municipal pretende adotar para valorizar o servidor público, ao invés de somente atribuir a eles o peso da folha salarial?

Hamilton – Qual seria sua estratégia para driblar a tradição e perseguir a inovação na sua gestão, tendo em vista as expectativas de seus eleitores e dos seus grupos de sustentação?

Igor – Prefeito, passada a pandemia, que esperamos ocorra tão logo consigamos viabilizar as vacinas em número suficiente, quais são as propostas que o senhor está preparando para tentar mudar o quadro fiscal da cidade de Campos dos Goytacazes?

Jefferson – Quais as estratégias de governo planejadas para os próximos anos, a fim de recuperar as enormes mazelas de aprendizagem impostas neste tempo pandêmico às nossas crianças e adolescentes, somadas as lacunas já tão graves e extensas existentes?

José Francisco – Prefeito, na medida em que os postos de trabalho vão fechando, torna-se necessário abrir outros. O que o senhor está pensando para equacionar esse problema que é prioritário no pós-pandemia?

Nélio – Enfrentamos uma grande crise de saúde pública, que vem expondo um sistema de saúde sucateado e cheio de fragilidades. Qual é o seu planejamento em médio e longo prazo para uma melhoria nesta área, trazendo mais dignidade ao tratamento de nossos munícipes?

 

Página 2 da edição de hoje (10) da Folha da Manhã

 

 

 

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