Kapi, Código, Wladimir e 2022 no Folha no Ar desta 5ª

 

(Arte: Joseli Mathias)

 

A partir das 7h da manhã desta quinta (08), a convidada será a professora Natália Soares, ex-candidata a prefeita de Campos pelo Psol. Ela falará da polêmica do Parque Alberto Sampaio (confira aqui e aqui), entre o anfiteatro Antonio Roberto de Góis Cavalcanti, o Kapi, e a Praça da Bíblia; assim como da ocupação do conjunto habitacional Novo Horizonte (confira aqui e aqui), no Parque Aeroporto; e da oficialização da imissão de posse aos assentados do MST no acampamento Cícero Guedes (confira aqui), nas terras da antiga usina Cambahyba.

Natália também falará da proposta do novo Código Tributário e do papel do setor produtivo em sua renegociação, assim como os seis primeiros meses (confira aqui e aqui) do governo Wladimir Garotinho (PSD). Por fim, ela vai falar do Brasil do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e das suas perspectivas para as eleições de 2022.

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quinta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Partidos abandonam Bolsonaro no voto impresso

 

(Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE)

 

Vera Magalhães, jornalista

Bolsonaro sozinho no voto impresso

Por Vera Magalhães

 

À medida em que se agrava a crise no governo em razão das descobertas da CPI da Covid e que fantasmas do passado, como o das rachadinhas familiares, voltam para a assombrar Jair Bolsonaro, os partidos vão dando demonstrações consistentes de que podem até estar aproveitando o bem-bom da bonança orçamentária concedida pelo seu governo, mas não vão com ele até o final “duela a quien duela”.

E esta é uma grande notícia para a democracia, por mais que não se possa celebrar intenções republicanas da parte de quase nenhuma das siglas partidárias brasileiras.

É especialmente alentadora a banana que legendas que estão aboletadas no Centrão ou em cargos no governo mesmo sem se assumir como tal, como é o caso do DEM, deram para o capitão em sua cruzada pelo voto impresso (confira aqui), auditável ou como queira se chamar essa empulhação.

Mesmo com a pressão inacreditável feita pelo presidente para forçar a porta desse retrocesso eleitoral, os partidos demonstram que não pretendem cerrar fileiras com ele na disposição de questionar o pleito a depender de seu resultado.

A sombra que Bolsonaro agora lança sobre a lisura do voto eletrônico teve uma contribuição vergonhosa do PSDB, partido que se quer sério e mainstream, quando em 2014 não aceitou a derrota de Aécio Neves para Dilma Rousseff e pediu uma recontagem que não apontou nenhum indício de fraude.

Estava lançado ali o ovo da serpente, e não é por acaso que Bolsonaro busca o caso Aécio como suposto precedente de caso em que as eleições teriam sido adulteradas. O outro, segundo a narrativa falsa que ele vende, seria o dele próprio, que teria vencido, vejam só, no primeiro turno em 2018.

Diante da evidência de que Bolsonaro usará, enquanto puder, a cantilena do voto impresso para ameaçar empastelar a eleição, conversei com um ministro que terá assento no Tribunal Superior Eleitoral no pleito do ano que vem, para o qual as perspectivas são de alta turbulência.

Tranquilo diante da possibilidade de o presidente ser bem sucedido em qualquer quartelada que tente, esse magistrado observou: “Alguém mais rico, mais inteligente e com um partido gigante tentou isso nos Estados Unidos e hoje está em sua réplica do Salão Oval”.

De fato, a firmeza demonstrada pelo Partido Republicano, a despeito de Donald Trump ainda ter uma força considerável na legenda, ao não chancelar os devaneios golpistas do ex-presidente foi uma demonstração de vigor da democracia norte-americana. E não só: a Suprema Corte, o Congresso e as Forças Armadas deixaram o caricato empresário que chegou à Presidência incidentalmente vociferando sozinho. Até o Twitter, plataforma por meio da qual ele mais governou, lhe virou as costas.

No Brasil os partidos são bem menos vertebrados que nos Estados Unidos. A forma como Bolsonaro e os filhos ciscam de terreiro em terreiro dessas siglas de aluguel em busca de uma que aceite recebê-los de porteira fechada é o indicador mais claro dessa falta de espinha dorsal.

Isso só torna mais notável que nem nesse ambiente de completo vale-tudo a ideia maluca do voto auditável encontre público.

Combinada a movimentos cada vez mais ousados dos partidos na CPI da Covid — que caminha a passos céleres para responsabilizar o presidente e seu governo pelas mortes e pelo desastre na pandemia — e em busca de uma opção eleitoral para o ano que vem, a debandada do voto impresso mostra que a blindagem ao presidente, como venho mostrando aqui, terá a duração, a ênfase e a extensão dos ganhos eventuais que esses partidos e seus caciques possam auferir.

Com pesquisas em queda, as ruas gritando “fora genocida” e escândalos de baciada, o preço aumenta e a contabilidade de ganhos e perdas começa a ficar mais apertada que o orçamento do brasileiro diante da inflação galopante.

 

Publicado aqui em O Globo

 

A professora e o bispo: nota 7,5 aos 6 meses de Wladimir

 

Sylvia Paes, Dom Roberto Ferrería Paz, Antonio Roberto Kapi, Wladimir Garotinho e Fábio Ribeiro (Montagem: Joseli Mathias)

 

 

Nota 7,5 ao governo Wladimir

Nota 7,5 aos seis primeiros meses de governo Wladimir Garotinho (PSD). Entre a professora e historiadora Sylvia Paes e o bispo diocesano de Campos, Dom Roberto Ferrería Paz, foi a média da avaliação dos seis primeiros meses (confira aqui) do governo Wladimir Garotinho (PSD), entre as feitas no Folha no Ar de segunda (05) e ontem (06). No programa da Folha FM 98,3, Sylvia abriu a semana sendo mais rigorosa, e deu nota 6 ao desempenho do novo Executivo goitacá. Que elevou sua média de aprovação a partir da nota 8,5 dada pelo líder católico.

 

Sylvia Paes: nota 6

“Avaliar com tão pouco tempo, é difícil. Contudo, (Wladimir) tem se mostrado um aluno bastante presente às aulas. E atento às demandas, que não são fáceis de serem resolvidas. São problemas que vem se agravando desde que o município era rico e não fez planejamento. Saúde, educação, mobilidade, segurança e moradia são problemas sérios. Tem que se priorizar alguns setores, porque não tem como atender todos eles. Eu daria uma nota 6, acreditando que ainda vai melhorar bastante. Sou uma professora bem ruinzinha, mas acredito na competência dos meus alunos. E do atual governo”, apostou Sylvia na manhã de segunda.

 

Dom Roberto: nota 8,5

“Eu daria um 8,5. Ele não encontrou uma situação fácil. E tratou de honrar o compromisso de reabrir o Restaurante Popular. Isso não é uma política pública perfeita, mas ao alimentar os pobres, se pratica o bem, e nós estamos de acordo com isso. Ele é mais acessível, o problema da gestão anterior (de Rafael Diniz, Cidadania) é que houve uma ‘incomunicação’. Então, isso nos dá possibilidades de dialogar. Agora, veremos, porque tem muita coisa que precisa sair do programa. Outra coisa que parece que ele cumpriu, é que seus pais não interferissem. Ele tem todo o direito de construir um caminho próprio” pregou Dom Roberto na manhã de ontem.

 

Polêmica da praça

Outra questão tratada nas entrevistas foi o anúncio do prefeito de uma parceria (confira aqui) com a Associação Evangélica de Campos (AEC) para recuperar o Parque Alberto Sampaio. Que seria chamado de Praça da Bíblia, incluindo o anfiteatro que leva o nome (confira aqui) do falecido diretor teatral Antonio Roberto de Góis Cavalcanti, o Kapi. Após reação da classe artística (confira aqui), o prefeito recuou parcialmente (confira aqui), mantendo o nome de Kapi no anfiteatro, com a divisão do parque entre artistas e religiosos. Na sexta (02) o Conselho Municipal de Cultura (Comcultura) decidiu (confira aqui) pela formação de comissões para acompanhar o projeto no Executivo e no Legislativo, onde ele será votado.

 

Fábio Ribeiro garante Kapi

Presidente do Legislativo goitacá e ouvinte do Folha no Ar, o vereador Fábio Ribeiro (PSD) mandou um áudio durante a entrevista com Sylvia Paes. Que foi nela reproduzido: “A minha proposta não é um pacote fechado e dias (a serem ocupados alternadamente por religiosos e artistas). É sentar com os representantes da AEC e dos artistas, mas não só a AEC, porque não será limitado a uma igreja. E a gente conversar sobre a ocupação, com o Poder Executivo, responsável pelos parques e jardins, como o gestor do espaço. E também, lógico, preservando o nome (de Kapi) ao anfiteatro. Disso aí a gente não abre mão”.

 

Conselhos municipais

Após ouvir o presidente da Câmara, Sylvia comentou: “Bom dia, Fábio! Quem bom que você está aí, atento. Bom também saber que o debate está continuando e, com certeza, teremos bons frutos. Porque todas as decisões sobre o uso do nosso território precisam do espaço de debate. O conflito precisa existir para que as conclusões sejam as melhores. Se não há esse conflito que gera o debate, não vai dar coisa boa. A gestão pública precisa entender que a decisão sobre o espaço público não é apenas dela, o Executivo e o Legislativo. A decisão passa por ouvir os cidadãos de Campos onde eles estão representados, nos conselhos municipais”.

 

A Bíblia e os artistas

Ontem, Dom Roberto também comentou a questão: “Em um estado laico, o espaço público deve ser garantido a todos, sem seletividade. Quando privilegiamos um grupo sobre o todo, estamos privatizando o público. Sendo a Praça da Bíblia, se os irmãos afro-brasileiros quiserem fazer um culto lá, como serão acolhidos? Tem certos setores evangélicos muito hostis aos cultos afro-brasileiros. Se vai reconhecer o teatro como espaço dos artistas, isso é inegociável. A Bíblia é um símbolo religioso que agrupa mais de 80% dos campistas. Mas o símbolo não necessita que tenha uma associação que tome conta do parque inteiro. O parque é público”.

 

Estado e religião

Uruguaio, Dom Roberto ouviu os versos do maior poeta do romantismo brasileiro, Castro Alves: “A praça é do povo/ Como o céu é do condor”. E depois a pergunta: “Se essa parceria fosse proposta à Diocese, o senhor aceitaria?”. Ele respondeu: “Não! Eu chamaria todas as igrejas, seria ecumênica a administração. Faríamos um conselho de igrejas, um conselho de religiões. Ao ser um espaço público, não pode ficar em monopólio de nenhuma igreja. Apesar de ser uma associação de evangélicos, há outras associações da fé. Sempre haverá o problema da exclusão. Eu acredito não ser salutar esse relacionamento entre Estado e religião”.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã

 

Agricultura, Código e Wladimir no Folha no Ar desta 4ª

 

(Arte: Joseli Mathias)

 

A partir da 7h da manhã desta quarta (07), o convidado do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, será o industrial Geraldo Hayen Coutinho, presidente do Sindicato da Indústria Sucroenergética do Estado do Rio de Janeiro (Siserj). Ele falará sobre a crise financeira de Campos (confira a série de 11 painéis da Folha sobre o tema, de julho a setembro de 2020, publicada aquiaquiaquiaquiaqui, aquiaqui, aqui, aquiaqui e aqui) e da retomada da vocação agropecuária do município, apontada como alternativa.

Ele falará também sobre a perspectiva da usina Paraíso, de propriedade da sua família, voltar a moer na próxima safra, e do impacto que isso terá na economia do município. Por fim, Geraldo analisará a proposta do novo Código Tributário e do papel do setor produtivo em sua renegociação, assim como os seis primeiros meses do governo Wladimir Garotinho (PSD).

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta segunda pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Lula lidera, Bolsonaro cresce rejeição e 3ª via tem espaço

 

(Infográfico: CNT/MDA)

 

Segundo a pesquisa CNT/MDA divulgada hoje, Lula (PT) não ganharia no primeiro turno a eleição presidencial se ela fosse hoje — como chegou a apontar a pesquisa Ipec (confira aqui) da última quinzena de junho — mas ficaria perto. Na consulta estimulada CNT, feita entre 1º e 3 de julho, o ex-presidente petista hoje tem 41,3% das intenções de voto, seguido à distância pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com 26,6%. Mas a rejeição ao governo federal chegou a 48,2% dos brasileiros, bem próximo aos 50% apontados pelo Ipec.

Nenhuma outra opção apresentada a presidente em 2022 teve dois dígitos de intenções de voto: Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (sem partido) empataram com os mesmos 5,9%, enquanto João Doria (PSDB) tem 2,1%. Descontados os 8,6% de brancos e nulos, Lula hoje teria 45,2% dos votos válidos. Outros 7,8% se disseram indecisos. A consulta ouviu presencialmente 2.002 eleitores em 137 municípios de 25 unidades da Federação. E tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou menos.

 

(Infográfico: CNT/MDA)

 

Rejeição ao governo Bolsonaro

Embora não tenha medido a rejeição direta do eleitor aos presidenciáveis, a pesquisa apresentou outros resultados bastante negativos a Bolsonaro. Os 48,2% dos brasileiros que hoje consideram seu governo ruim ou péssimo cresceram relevantes 12,7 pontos sobre os 35,5% registrados pela CNT/MDA de fevereiro. Na de julho, administração federal teve 22,7% de regular e 27,7% de bom ou ótimo, quase o mesmo número de intenções de votos do presidente.

 

(Infográfico: CNT/MDA)

 

Rejeição à condução da pandemia

Outro dado da pesquisa também revela uma causa desse substancial aumento no desgaste do governo federal: 57,2% dos brasileiros desaprovam sua condução da pandemia da Covid-19. É um crescimento negativo de 15,2 pontos em relação aos 42% que desaprovavam em fevereiro. Os que aprovam hoje são 39%. É uma queda de 15,3 pontos na maioria perdida dos 54,3% que aprovava a condução sanitária do país há cinco meses.

 

(Infográfico: CNT/MDA)

 

Estimulada – espontânea = rejeição

Se na corrida presidencial mantém votos para estar no segundo turno, Bolsonaro diminuiu bastante a diferença para Lula na pesquisa espontânea: 21,6% contra 27,8% do petista. Mas, na comparação com a consulta estimulada, Lula cresce 13,5 pontos para chegar aos 41,3% de quando o disco é apresentado. Com ele, o presidente só chega a 26,6%. Este crescimento de 5 pontos é menos da metade do seu principal concorrente. E revela o alto preço da rejeição que hoje o “mito” carrega.

 

Potencial para a terceira via

Por outro lado, a mais de 15 meses das urnas, é alto número de eleitores que se dizem indecisos na pesquisa espontânea a presidente: 38,9%. O que releva potencial para o crescimento de uma terceira via. Dos nomes postos na consulta induzida, Ciro passa de 1,7% para 5,9%, Moro de 0,7% para 5,9%, Doria de 0,7% para 2,1%. E não são os únicos três nomes no jogo para tentar furar a polarização entre Lula e Bolsonaro.

 

(Infográfico: CNT/MDA)

 

Maioria pelo voto eletrônico

Considerada por analistas nacionais e internacionais como tentativa de criar uma atenuante prévia para negar a derrota, a briga de Bolsonaro pelo comprovante impresso dos votos na urna eletrônica (confira aqui) também não tem acolhida da maioria da população. São 32,9% os brasileiros que disseram ter confiança elevada no voto eletrônico, enquanto 30,8% têm confiança moderada — ao todo, 63,7%. Outros 15,8% disseram ter confiança baixa, enquanto 18,7% se disseram sem confiança.

 

Confira aqui a pesquisa CNT/MDA

 

LGBT, Francisco, Kapi, Wladimir e Brasil no Folha no Ar desta 3ª

 

(Arte: Joseli Mathias)

 

A partir das 7h da manhã desta terça, o convidado do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, é o bispo diocesano de Campos, Dom Roberto Ferrería Paz. Ele falará das condenações recentes e públicas (confira aqui e aqui) de padres católicos brasileiros à homossexualidade, assim como da posição do Papa Francisco à questão e da cirurgia (confira aqui) a que teve que se submeter ontem (04).

Dom Roberto analisará também a polêmica (confira aqui e aqui) da criação da Praça da Bíblia pela Associação dos Evangélicos de Campos (AEC) em espeço contíguo ao anfiteatro Antonio Roberto de Góis Cavalcanti, o Kapi, no Parque Alberto Sampaio, fazendo uma avalição dos seis meses do governo Wladimir Garotinho (PSD). Por fim, o bispo católico falará do uso do nome de Deus na política do Brasil do presidente Jair Messias Bolsonaro (sem partido).

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta terça pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Vida e obra de um cão chamado Zidane

 

Zidane e Atafona, 10 de novembro de 2018

 

Zidane, o craque francês, se marcou pela elegância. Zidane, o buldogue francês, pela falta dela. Em comum, ambos tinham duas características a priori antagônicas: a preguiça e a determinação. O jogador nunca correu para marcar ninguém, mas conquistou uma Copa e só não levou outra porque perdeu a cabeça. O cão adorava dormir, mas, como todo buldogue, era tenaz quando o jogo era do seu interesse. E conquistou corações com seu charme irresistível. Hoje apertados de tristeza por sua partida repentina na madrugada, a 16 dias de completar seis anos.

Meu filho Ícaro, como de resto todos nós, teve uma fase difícil na adolescência. Que vinha desde a perda do seu avô, meu pai, o jornalista Aluysio Barbosa, em 2012. A relação entre avô e neto extrapolava um amor que já é especial por natureza. Em 2015, ao conversar com um amigo com experiência em crianças, ele me aconselhou a dar um cachorro ao meu filho, que morava com a mãe, a jornalista Dora Paula Paes, em apartamento.

 

Zidane, em sua vida dupla de cão de apartamento, e Aquiles

 

Decidimos por um buldogue francês e fomos comprar um filhote em canil dedicado à raça, eu, meu filho e seu irmão Aquiles Paes, meu afilhado. Como o filhote foi entregue no dia seguinte, sem nunca o pedigree ter sido, até hoje cremos que não foi o escolhido. Mas ele certamente nos escolheu. Seu nome, por óbvio, foi em homenagem ao gênio francês do futebol. Que legou também seu apelido ao cão: Zizou.

Só depois que Zizou passou a morar com meu filho, atentamos à sua data de nascimento: 20 de julho. Nessas coincidências que não há, a mesma data de nascimento do meu pai. Fiquei espantado e passei a encarar como sinal. Que se confirmou não só nos fortes vínculos entre um menino e seu cão, como nas características que este reforçou naquele: responsabilidade, compromisso, cuidado, amor que não se mede.

Atafona, 16 de junho de 2020

Em outra característica que não parecia coincidência, Zizou até gostava da sua vida de cão de apartamento. Mas não escondia de ninguém sua predileção desavexada por Atafona. Era só agitar sua guia e gritar “praia, Zizou!”, que ele brilhava os olhos esbugalhados, escancarava a boca prognata em alegria, com a língua pendendo para fora, dando saltos na direção de quem gritava. Como todo buldogue francês, com tronco largo e pernas curtas, ele não conseguia nadar. Mas, à beira-mar na foz do Paraíba, o “playboy” de apartamento se convertia em malandro atafonense. Inteligente e corajoso, amenizava o calor do sol em mergulhos nas ondas. Entre elas e a areia, parecia um tatuí.

 

 

Atafona, 14 de junho de 2020

Sempre que eu ia à Atafona, mesmo sem Ícaro, levava Zidane. Partilhando da paixão pelo balneário que também fôra legada por meu pai, sempre que ele voltava dos espaços amplos de lá para sua vida de cão de apartamento, ficava em depressão por um ou dois dias. Foi na praia que ocorreria outra estranha coincidência.

Era a madrugada de 2 de abril de 2016, mais feliz que a de hoje, quando eu tirava do gravador uma entrevista com outro gênio do futebol, o ex-zagueiro Aldair, do Flamengo, do Benfica de Portugal, do Roma da Itália e da Seleção Brasileira, com a qual foi tetracampeão e destaque da Copa de 1994. Estavam no mesmo quarto, dormindo, Ícaro e o cão Zidane. E exatamente no ponto do áudio em que Aldair tentava explicar os dois gols do craque Zidane sobre o Brasil, na final da Copa de 1998, seu xará acordou e começou a me lamber.

Zidane no traço de Aquiles Paes

No verão deste ano, poucos meses antes de morrer, o cachorro Zidane alcançou seu apogeu. E superou o algoz do Brasil em 1998 e 2006. Se, nestes dois jogos, o maestro francês marcou dois gols, o buldogue francês matou três ratos. Com seu corpo pequenino e musculoso, superou também o dogo argentino Astor e os rottweilers Bismarck e Manfred. Grandes e imponentes, os três, juntos, só deram cabo de um roedor. No contraste com os cães de guarda, nada mal para um cão considerado de companhia. A partir do seu feito, além de Zizou, ele ganharia outro apelido: El Matador.

Com o menino Lorenzo Abreu, à beira do fogo na noite fria de 26 de junho, Zidane na sua última ida a Atafona

Em um país em que 524 mil vidas humanas foram perdidas para a pandemia da Covid, sob o negacionismo e a corrupção do governo federal, falar de um cão morto pode soar até banal. Mas não é! Sua vida breve e plena não foi um mero número. Como não foi a de cada um desse meio milhão de brasileiros. Todas também deixaram corações apertados de saudade pelos que deixaram de bater.

Já tive vários cachorros, mas Zizou sempre terá um lugar especial. Se não fosse mais nada, por ter entrado na vida de um menino que andava meio perdido. E saído dela deixando um homem feito e centrado, meu único filho. É maior dívida com um cão do que qualquer homem possa pagar.

Abaixo, em relato pungente, um pouco da vida e da obra de um bulgoguinho tigrado chamado Zidane, craque nos campos das nossas vidas:

 

Zidane e Ícaro, Atafona, 9 de fevereiro de 2016

 

Ícaro Abreu Barbosa e Zidane

Adeus e até mais, Zizou

Por Ícaro Abreu Barbosa

 

O Sancho Pança do meu Dom Quixote foi você, meu amigo Zidane. As vibrações da sua felicidade foram minha salvação no momento mais difícil da minha vida até agora — literalmente. A sua partida repentina, no começo da madruga deste domingo (4), ainda está sendo digerida, e a sensação é de um pesadelo que não tem fim. Amigo querido, você foi um marco na minha vida: deixando um Ícaro antes e outro depois da existência de Zidane.

Mas, agora, como fica aquele que ficará sem Zizou? Ele não vai ter os seus resmungos no sofá enquanto estiver trabalhando. Não vai ter seu sono ninado pelos seus roncos de porquinho. Não vai ter uma bolinha de pelo pra aquecer o pé no inverno, uma companhia de soneca para a tarde, um obstáculo para tropeçar enquanto estiver cozinhado ou um parceiro pra caminhar na praia e tomar banho de mar no verão. Ele está aleijado no coração adicto da sua presença, Feijão: que agora, depois de uma noite muito estranha, já não existe mais.

Você, Zizou, era o motivo da partida para o trabalho: pois alguém tinha que ter o prazer de te alimentar com Guabi e medicar com o Bravecto para acabar com os carrapatos que te acompanhavam quando você retornava do seu habitat preferido — a Praia.

Isso tudo para garantir o bem-estar do protetor dos oprimidos em qualquer briga, por mais que fosse um cotoco braquicéfalo de 11kg… mas também existia o seu lado atentado, você não foi um santo. Foi a teimosia e chatice em formato de cachorro. Era o terror da convivência com outros pets, sendo engolido por uns e jurado de morte por outros; mas encantava qualquer ser-humano com seu carisma e prostituição por um cafuné, o que compensava a “feiúra”, te deixando até bonitinho no final das contas.

O que você tinha de útil, e ninguém pode negar, era um talento para a caça de ratos que acabou sendo pouco explorado, olhando em retrospectiva. Seu saldo durante o verão da pandemia de 2021 é motivo de orgulho para mim, além de um murro na cara para aqueles que dizem: “Bulldog Francês é raça de madame e não serve pra nada.”

Sua presença e companhia foi, infelizmente, curta demais; mas teve uma intensidade e importância que vai ser lembrada enquanto aqueles que conviveram com você estiverem por aqui. Suas fotos, caretas e vídeos vão ilustrar nossos momentos juntos; sendo sempre um bunker temporal, aonde você estará vivíssimo, alegre e protegido: um lugar para chamar de seu nas ondas do tempo, meu amiguinho.

Pode deixar, vou lembrar todos os dias de você e ressaltar a importância que teve para quem sou hoje e serei amanhã. Me consola saber e ouvir, principalmente daqueles que te cercara, que você foi um cachorro amado e feliz. Lamento apenas pela força e explosão da sua juventude ter se transformado nessa rigidez, assim como aconteceu com Hemingway e principalmente nos últimos meses, quando você começou a envelhecer.

Peço desculpas por não estar junto de você, ao seu lado — como você sempre esteve comigo — durante sua última luta. Não me foi permitido pela equipe veterinária. Mas acho que até com isso você se preocupou. Aquele último olhar de tchau que você me lançou deitado, quando percebeu que eu estava te olhando pelo vidro, foi seguido por uma lenta levantada e reação de despedida; e depois acabou com virada costas para mim: a encarada que você deu na parede branca do caixotinho de internação significou alguma coisa. Tenho certeza que você queria me poupar da dor de te perder, que sempre comentei com você que iria sentir e talvez reagir mal — enquanto acariciava atrás da sua orelha e deslizava a mão no seu dorso. Resiliente e teimoso como foi durante toda a vida, decidiu segurar sozinho a barra e o caminho que agora está seguindo.

Eu queria fazer mais, mas só posso torcer e rezar por você, além de te agradecer por ter sido um cachorro incrível. Te amo muito e para sempre, meu amigo. Tomara que você seja sempre a sombra que me acompanha e também a luz que ilumina meu caminho.

Desejos de mais beijos, abraços e momentos, além de pedidos de desculpas e agradecimentos, meu filho, resumem tudo o que posso fazer neste momento por você.

Espero que a praia de Atafona, que você tanto amou, seja sempre seu lar e nosso ponto de reencontro para matar as saudades eternas que vamos sentir um do outro. O mar, a areia, a grama e o vento que sopra são seus: agora você é totalmente livre e pertence à PRAIA que te fazia pular de alegria. Só não se esqueça que a casa está sempre em quem te ama muito. E um dia espero que eu te encontre neste passeio incerto pelo fim.

Zidane depois da vida, no traço de Aquiles Paes

 

Campos, Kapi, Wladimir e Brasil no Folha no Ar desta 2ª

 

 

A partir das 7h da manhã desta segunda (05), quem abrirá a semana do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, será a historiadora Sylvia Paes. Ela falará sobre a polêmica da data de nascimento de Campos dos Goytacazes (confira aqui). Assim como a não menos polêmica proposta de abrigar evangélicos e artistas (confira aqui e aqui) no mesmo espaço público do Parque Alberto Sampaio, com o anfiteatro Antonio Roberto de Góis Cavacanti, o Kapi, além de analisar os seis meses do governo Wladimir Garotinho (PSD).

Por fim, Sylvia tentará colocar o Brasil do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na perspectiva da História. Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta segunda pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.