Eduardo Paes: Campos, Wladimir, RJ, Bolsonaro e Lula

 

“Em hipótese nenhuma” o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), será candidato a govenador do Estado do Rio em 2022. Foi o que ele garantiu na manhã de ontem em entrevista ao programa Folha no Ar, na Folha FM 98,3. Onde disse que seu pré-candidato ao Palácio Guanabara é o presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz (PSD), mas elogiou o governador Cláudio Castro (PL). Indagado se uma eventual eleição deste não seria sua melhor opção, já que o vice-governador eleito em 2018, se eleito governador em 2022, não poderia se candidatar à reeleição em 2026, Paes respondeu: “se em algum momento eu for discutir esse apoio (a Castro em 2022), esse seria o último argumento (espaço aberto em 2026) que me levaria a apoiá-lo”. O prefeito do Rio ressaltou a importância de Campos no Norte e Noroeste Fluminense. E elogiou o prefeito Wladimir Garotinho, do seu partido, com quem se encontrou por acaso na quinta: “ao contrário do pai, que é um político de mais conflitos, me parece um quadro político muito preparado, articulado”. Nacionalmente, considerou a situação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como “muito crítica”. E negou que seu almoço recente com o ex-presidente Lula (PT) tenha sido sinal de apoio à eleição presidencial de 2022.

 

Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (Foto: Divulgação)

 

Quadro encontrado na Prefeitura do Rio — Acho que é importante a gente dizer, para não ficar só no jogo de culpa de gestor A ou B, nosso adversário político (Marcelo Crivella, Republicanos, ex-prefeito do Rio derrotado por Paes no segundo turno de 2020): o Brasil vem vivendo uma crise ética, política e econômica desde 2014. Esse é um fato bastante relevante, senti isso com muita força já no meu segundo mandato de prefeito. Então, é óbvio que o país que passa por uma crise há quase sete anos, você tem uma dificuldade muito grande, uma degradação social, o aumento da pobreza, a miséria, queda de arrecadação. Isso tudo gera um ambiente muito ruim. E é neste ambiente, justamente, que os gestores são mais exigidos. É neste momento que a gente precisa de gestores com mais experiência, com mais competência. O Rio, em 2016, resolveu eleger o Crivella prefeito, que se revelou um péssimo gestor; repito, enfrentando uma situação difícil. Nunca disse que a situação era simples, pelo contrário. Mas, ele não soube lidar com a crise, ao contrário, agravou ainda mais aquilo que já era difícil. Então, para onde quer que você olhe, seja do ponto de vista da zeladoria da cidade, passando pela prestação de serviços de Saúde, de Educação, de Transporte, tudo isso se degradou muito. Então, o desafio é grande. Acho que a melhor definição, o esboço inicial, é ajeitar as finanças e botar a cidade para funcionar de novo. Aí, sim, você voltar a recuperar a capacidade de investir e fazer.

“Em hipótese nenhuma” — Não vou disputar a eleição (a governador). Eu fui eleito para ficar aqui (como prefeito) por quatro anos. O grau de degradação da cidade (do Rio) é muito grande. Se tivesse uma mensagem clara minha, durante o processo eleitoral, até sob o ponto de vista de a população poder identificar com mais tranquilidade o vice-prefeito (Nilton Caldeira, PL), isso poderia até ser uma possibilidade. Eu não nego o meu desejo de um dia poder governar o Estado do Rio de Janeiro, um estado com tanto potencial, tanta capacidade e tanta força, e que, infelizmente, vem passando pelos problemas que passa. Mas, isso não vai acontecer em 2022, em hipótese nenhuma.

Felipe Santa Cruz e Cláudio Castro — Eu tenho uma pré-candidatura colocada, que é a do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz (PSD). É um quadro muito qualificado, muito preparado e que tem, na minha opinião, capacidade de enfrentar alguns temas que o nosso estado enfrenta, entre eles o da Segurança Pública, que deixou de ser uma questão restrita à capital ou à Região Metropolitana do Rio de Janeiro; passou a ser uma questão de todo o estado. Então, ele tem essa enorme capacidade, uma enorme capacidade de articulação a nível nacional que pode ajudar muito ao nosso estado. Mas falta muito tempo para a eleição. Eu tenho aqui que fazer o registro sobre a maneira habilidosa, correta, com que o governador Cláudio Castro (PL) tem conduzido a administração do estado. Ele pegou o estado numa situação muito inusitada, ainda como uma pessoa desconhecida até do meio político, e tem demonstrado muita habilidade, tem sido muito correto no trato com os prefeitos, inclusive com o prefeito da capital. Então, esse processo é mais para frente. O que eu desejo é que a gente possa fazer esse ponto de virada no estado do Rio de Janeiro. O que a gente tem visto, infelizmente, é que o estado tem se degradado muito, perdido importância econômica, perdido protagonismo, e isso é inaceitável. Nós estamos trabalhando junto com o governador Cláudio Castro para conseguir avançar. Agora, a pré-candidatura colocada por mim e pelo meu partido é a do Felipe Santa Cruz.

Lula, Bolsonaro e terceira via — Eu acho que é muito cedo ainda. Hoje, parece haver uma polarização entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Bolsonaro (sem partido). A gente vê, agora, uma queda bastante forte da popularidade e da credibilidade do presidente Bolsonaro. A gente percebe também uma rejeição muito grande desses dois personagens. Há um desejo, no mundo da política e em vários atores sociais, de que surja o que eles chamam de terceira via, sei lá o que isso quer dizer, mas uma alternativa a esses dois nomes. E nós estamos a um ano da eleição. O processo eleitoral ainda é tema de políticos, da imprensa, pois estamos aqui debatendo, e de determinados setores. A população ainda não se ligou para isso, ela está preocupada com o altíssimo desemprego que está enfrentando, com o preço do quilo do arroz, com passagem do ônibus que já é alta e com o ônibus que falta, porque o setor está completamente destroçado. Então, essas são as preocupações da população. Eu acho que o candidato a presidente que tiver mais capacidade de apresentar isso é que vai ser o escolhido.

Reflexo no RJ — Voltando ao estado do Rio, eu acho que isso (a eleição presidencial) vai ter muita influência na eleição estadual. Será mesmo que o presidente Bolsonaro apoiará o governador Cláudio Castro? Será mesmo que o governador Cláudio Castro vai querer o apoio do presidente Bolsonaro? Será mesmo que o presidente Lula levará a sua candidatura até o fim? Será mesmo que vai haver essa disputa entre essas duas forças? Isso é um processo que a gente tem que observar. Ainda falta muito tempo, as forças políticas estão se movimentando. Eu acho que é muito bom para o Brasil que a gente tenha várias candidaturas, e é muito bom para o estado do Rio de Janeiro também que a gente tenha várias candidaturas. Qualquer eleição em que você fique limitado a poucos candidatos, é muito ruim. Eu disputei a eleição de 2018 (a governador), a população tinha uma quantidade grande de alternativas. Na eleição de 2020 (a prefeito), de novo a população tinha uma quantidade grande de alternativas. Em uma eu perdi, na outra eu ganhei. Então, eu acho que é importante que surjam novas candidaturas, que surjam ideias diferentes para o estado. Por isso, a eleição em dois turnos ajuda. Você vai, no segundo turno fazer a composição política.

Fernando Gabeira compara Bolsonaro/2022 a Crivella/2020 — Eu nem vi esse comentário do Gabeira, mas ele é um personagem que eu sempre observo com muita atenção, que tem uma visão perspicaz sempre da política, porque é jornalista, está na estrada há muito tempo e já esteve lá dentro, como deputado e como candidato de várias eleições majoritárias. E eu acho que, sim, a situação do presidente Bolsonaro é muito crítica. A capacidade dele de dialogar com diferentes setores da sociedade… aliás, de dialogar.  A incapacidade dele de dialogar é uma característica muito forte. Isso, obviamente, limita as possibilidades de ele ampliar. Eu entendo, às vezes, que fica ali um jogo meio de dois personagens se retroalimentando; dois personagens que têm uma rejeição muito alta, o presidente Lula e o presidente Bolsonaro, hoje o presidente Bolsonaro muito maior. Acaba que o Bolsonaro joga muito mais com a história de “vocês querem que eles voltem?”. Ele já ganhou a eleição (de 2018) assim. Eu não acho a situação dele simples, não. Acho a situação dele muito complicada, até porque o Brasil não vai bem. Tirando a pandemia, essa tragédia que nós vemos acontecendo, no Brasil você tem uma economia muito degradada, tem muita gente desempregada, com nenhuma perspectiva de crescimento econômico. É uma inflação alta, é o PIB sem crescer, enfim, as estruturas mais fundamentais do Estado brasileiro, no sentido de chegar à população, não funcionam. Hoje, você pega o sistema de assistência social, pode perguntar isso aos prefeitos do Norte e Noroeste Fluminense, você não tem mais os repasses regulares do Sistema Único de Assistência Social (Suas), que é fundamental para tratar da população mais vulnerável. Então, me parece um governo (Bolsonaro) muito frágil politicamente, muito frágil do ponto de vista gerencial, e que enfrenta uma situação econômica trágica. Não sei que milagre eles podem fazer. Mas, no final, fica um pouco aquela velha frase: a grande questão é comida na mesa, é o emprego da população. E, óbvio, isso agravado por essa tragédia da pandemia, na minha opinião, muito mal conduzida, muito mal gerenciada. Ninguém aqui é culpado pela pandemia, ninguém é culpado pela doença, nem o presidente nem ninguém aqui do Brasil. Mas, quando se depara com o cenário adverso, você gerencia bem a crise ou gerencia mal. E a crise foi mal gerenciada no Brasil.

Campos dos Goytacazes — Primeiro, eu acho que o Rio tem ou teria que ter duas capitais: a cidade do Rio/Niterói, que é o centro da metrópole, e acho que Campos devia ser a segunda capital do estado. Enfim, óbvio que isso não é possível do ponto de vista administrativo, mas, na prática, e essa era uma proposta minha quando fui candidato a governador (em 2018). Na prática, o grande centro de referência da parte Norte do estado é a cidade de Campos. Portanto, merecia algum protagonismo maior por parte do Governo do Estado na discussão dos órgãos administrativos, no momento de tomada de decisão, na própria presença das autoridades públicas e políticas. Portanto, essas duas cidades (Rio e Campos). E incluo aqui Rio/Niterói, porque, tirando a poça (Baía de Guanabara) que tem entre nós (risos), são duas cidades muito próximas. Rio e Niterói têm esse protagonismo natural, mas era importante que Campos pudesse cumprir com esse papel para todo Norte e Noroeste. A minha percepção sempre foi de muita distância entre o centro de tomada de decisões e uma parte enorme do estado, sei lá, de mais de 1/3 do território, vamos chamar de 2/5 do estado, que acabam muito relegados a um processo de decisão geograficamente muito distante.

Governo Wladimir — Eu estive ontem (quinta, dia 8), por acaso, com o prefeito Wladimir Garotinho (PSD). Tivemos uma conversa. Eu ingressei nas fileiras do PSD, partido do prefeito Wladimir Garotinho. Apesar de conhecê-lo muito pouco, me parece um quadro político muito habilidoso, muito preparado. Até brinquei com ele ontem: ao contrário do pai (o ex-governador Anthony Garotinho, sem partido), que é um político de mais conflitos, de mais embates, de mais brigas, ele (Wladimir) me parece um quadro político muito preparado, articulado, que está aí enfrentando a situação com muita dificuldade. A situação de todos os municípios, de todos os gestores públicos municipais, não é uma situação simples.

Castro é melhor por que, se eleito governador em 2022, não poderá se reeleger em 2026? — Só quem pensa política de forma pequena imagina isso. A pior coisa na política é quando um ator político se coloca no lugar do outro com a sua própria cabeça. Quando você se coloca no lugar do outro, tem que tentar se aproximar do que pensa o outro. A última coisa que eu penso é em 2026, sinceramente. Se eu penso em alguma coisa hoje mais distante, é em 2024, na possibilidade da minha reeleição aqui como prefeito. É fundamental para a vida do prefeito, tanto para a vida do prefeito aqui do Rio quanto para a vida do prefeito Wladimir, aí em Campos: nós precisamos de um bom governador, que tenha capacidade, que realize, entregue. Um bom governador facilita muito a vida, a popularidade e a reeleição de um prefeito. O que eu desejo é que o estado do Rio de Janeiro invista em infraestrutura, retome o seu protagonismo econômico. O que eu desejo é que a minha cidade deixe de ser tomada parte do território por milicianos e a outra parte por traficantes; isso acontece na Baixada, em São Gonçalo, na Região dos Lagos. Hoje, em cidades pequenas do Sul Fluminense, há presença de fuzis nas ruas. Essa deve ser a discussão que vai nos pautar para 2022. Agora, dizer que vou apoiar o sujeito porque não vai ser candidato à reeleição. Enfim, fiz meus elogios ao governador Cláudio Castro, mas, se em algum momento eu for discutir esse apoio, esse seria o último argumento que me levaria a apoiá-lo.

Porto do Açu — Eu vou um pouco naquela lógica do que eu tinha dito quando falei das duas capitais. Você tem um investimento do tamanho do Porto do Açu aí (em São João da Barra): ele tem que ser catalisador e tem que propagar para todas as regiões do Norte e Noroeste. Uma pena, por exemplo, que Campos não tenha conseguido ter um protagonismo maior na instalação da indústria petrolífera, do óleo e gás, na cidade de Campos. Seria o mais óbvio, o mais lógico, pela própria infraestrutura, pela própria dimensão de Campos. Mas, se você consegue consolidar esse ramo de desenvolvimento a partir de Campos, isso vai irradiar e trazer riquezas para todas as cidades do Norte e Noroeste Fluminense. Hoje, eu vejo o Porto do Açu como a grande aposta, a grande possibilidade. É uma oportunidade que Campos não pode perder. Aliás, ontem eu conversava isso com o prefeito Wladimir, no encontro que tive com ele, e ele chamava a atenção para isso: como, de certa maneira, equívocos cometidos pelo pensamento campista fizeram com que a Petrobras acabasse em Macaé. Isso não pode acontecer com o Porto do Açu. É uma possibilidade enorme, e a cidade que pode ter protagonismo nisso é Campos, por uma série de fatores, pela qualidade de vida que oferece, pela quantidade de serviços que oferece, pelo capital humano de que dispõe. Isso irradia para as outras cidades, como, de certa maneira, as qualidades do Rio de Janeiro conseguem ser irradiadas para as demais cidades da metrópole.

Almoço com Lula — Eu o recebi para um almoço no Palácio da Cidade, há cerca de três semanas atrás. Nos meus outros mandatos, passei por três presidentes da República: o Lula, a Dilma (Rousseff, PT) e o Michel Temer (MDB). Passei por três governadores de estado: Sérgio Cabral (MDB), Pezão (MDB) e o (Francisco) Dornelles (PP), que ficou um período como governador. Sempre tive com todos eles uma relação institucional, de parceria, trabalhando em conjunto. É a maneira como vamos trabalhar. Eu acho que, quando você está numa função administrativa, quando você assume um cargo de prefeito, governador ou presidente, tem que ser institucional. Não dá para ficar travando batalha eleitoral ou política o tempo todo, conflitando, querendo usar a cadeira de prefeito numa luta política que não tem a ver com os interesses da cidade que você representa. Busco fazer assim com o governador Cláudio Castro, de maneira muito bem-sucedida. Converso muito com ele, temos trabalhado em parceria aqui.

Visão de Bolsonaro – O presidente Bolsonaro, dos que eu convivi, é o presidente mais distante. Não é uma pessoa que tenha uma visão federativa, vamos chamar assim, tão clara quanto vi no presidente Lula, na presidente Dilma e no presidente Michel Temer. Mas, tenho dialogado com diferentes setores e áreas do Governo Federal de maneira positiva. E, de novo: o presidente Lula é uma pessoa que eu não diria ser um amigo. Tive uma relação muito boa, respeito politicamente, reconheço os serviços que ele prestou ao Brasil. Quando veio ao Rio de Janeiro, tive o prazer de recebê-lo para um almoço no Palácio da Cidade, reencontrá-lo, não o via há muitos anos. Foi um prazer muito grande recebê-lo aqui no Rio.

Pauta com Lula — Falamos de tudo. Óbvio que o presidente Lula é um político com muita história, com muita experiência, muita capacidade de diálogo. Me pareceu muito firme no desejo de se candidatar, muito indignado com o que se passa no Brasil se hoje. O presidente Lula, na prática e nas suas ações, sempre demonstrou uma preocupação com as pessoas mais pobres, com aqueles que precisam mais do Estado, de serviço público. Enfim, foi uma conversa de política, sobre o Brasil, sobre o Rio, sobre os acontecimentos dos últimos anos. Tive uma conversa muito sem pauta, muito agradável. Foi, de fato, um prazer reencontrar o presidente Lula.

Acordo? — O presidente Lula é um político muito experiente, eu sou um político experiente, e ambos sabemos que há uma distância muito grande entre o dia de hoje e a tomada de decisão. Mas, é óbvio que as conversas ajudam a construir, a trocar ideia, opiniões, a ajustar, enfim. Isso tudo faz parte do processo da política. Então, eu acho que foi isso. Nós não nos sentamos para fazer um acordo político. As pessoas acabam interpretando: “Ah, o Eduardo Paes vai apoiar o Lula porque recebeu o Lula para almoçar”. Não. Eu recebi o Lula para almoçar e, no mesmo dia, o presidente do meu partido, Gilberto Kassab, trouxe o pré-candidato a presidente Rodrigo Pacheco (DEM), para jantar. Então, eu almocei com o Lula e jantei com o presidente do Senado. As pessoas têm que conversar, têm que dialogar. Eu não tenho o menor problema de conversar com adversário, porque isso faz parte do processo político, esse é o papel que nós, políticos, temos que cumprir. As pessoas até reconhecem em mim qualidades de bom gestor, mas governante não é CEO de empresa. Governante tem que ter capacidade de articulação política, de montar time, de fazer boa gestão, sim, mas principalmente de ter compreensão do quadro como um todo. A tragédia brasileira está muito nessa negação da política que nós vivemos nos últimos anos. Inclusive, faço uma crítica. Fui contra o impeachment da presidente Dilma, acho que foi um arrepio institucional absurdo. Sob ponto de vista político, um equívoco. Mas era uma pessoa com enorme incapacidade também de diálogo político. Incapacidade de olhar para o diferente, para dialogar com aquele que pensava diferente. A política exige isso da gente. Até porque, senão, vai para a ditadura. Se só eu tenho razão, por que eu vou querer ouvir opinião contrária? É importante ouvir. No final, você pode manter sua opinião, mas é importante ouvir a opinião contrária.

 

Confira abaixo, em vídeo, a entrevista do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, ao Folha no Ar de sexta (9):

 

 

Reabertura de Paraíso e Psol busca protagonismo em 2022

 

Geraldo Coutinho e Natália Soares (Montagem: Joseli Mathias)

 

 

Reabertura de usina = R$ 200 milhões em 2022

Mais R$ 200 milhões na economia de Campos em 2022, com a reabertura da usina Paraíso. Foi o que Geraldo Hayen Coutinho, um dos seus proprietários, projetou no programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, na última quarta (7). Em 2020, duas usinas geraram na economia goitacá R$ 500 milhões, 1/3 do orçamento executado do município. “Nós fechamos o negócio com o Renato Abreu, proprietário da usina Sapucaia, onde a Coagro é gestora. Acordamos há três anos que Paraíso cessaria sua moagem, direcionando sua cana para Sapucaia. E chegou o momento de darmos mais um salto na escala de produção, com a reabertura de Paraíso. Que já parte no primeiro ano com faturamento próximo a R$ 200 milhões”, revelou o industrial.

 

Natália busca protagonismo em 2022

Entrevistada do Folha no Ar de quinta (8), a professora Natália Soares (Psol), ex-candidata a prefeita de Campos em 2020, falou em buscar protagonismo na eleição de 2022. Perguntada se concorreria como deputada estadual, ela respondeu: “O timing do partido é diferente do timing das expectativas. Temos conversas e passaremos pelo processo congressual do Psol em setembro. Por isso não é possível dar uma resposta agora: vou? Qual o cargo? A gente não tem isso ainda fechado, porque esses espaços de discussão coletiva precisam ser respeitados. Mas a gente busca, sim, um protagonismo, que foi conquistado na outra eleição (em 2020)”.

 

Força política do comércio (I)

Um ponto reconhecido por Geraldo e Natália foi a força política demonstrada pelo setor produtivo goitacá, tanto na abreviação do lockdown da cidade em abril, quanto ao impedir até agora a aprovação do novo Código Tributário. “Nós estamos vivendo hoje um movimento inédito na cidade. Reconheço a legitimidade do prefeito, mas me solidarizo com a classe empresarial, quando ela busca qualificar essa discussão. Não dá para simplesmente dizer: ‘o orçamento não fecha e eu preciso complementarֹ, a saída é aumento de tributo’. Esse discurso tem que ser refeito. Esse custeio (da Prefeitura), de fato, está enxuto?”, questionou Geraldo.

 

Força política do comércio (II)

Natália também reconheceu a força do setor produtivo, embora com conclusões diferentes: “O Código Tributário não passa por um amplo debate com todos os setores. Quem está fazendo essa discussão hoje é esse setor produtivo. Mas careceu de um amplo debate com as universidades, com os pesquisadores que estudam desenvolvimento regional. O TCE (Tribunal de Contas do Estado) comunica que o município excede (o limite entre folha de pagamento e receita própria). Aí você tem decisões. E, sim, precisa pagar mais quem ganha mais. Na nossa visão esse setor (empresarial), com certeza, vem recuperando força política”, analisou Natália.

 

Nota quebrada a Wladimir: 6,25

Nota 6,25 aos seis meses da gestão Wladimir Garotinho (PSD). Foi a avaliação, na média, das notas de 0 a 10 dadas por Geraldo Coutinho, presidente do Sindicato da Indústria Sucroenergética do Estado do Rio de Janeiro (Siserj), e pela professora universitária de filosofia Natália Soares. No Folha no Ar de quarta, Geraldo deu nota 8 ao novo governo municipal. Bem mais rigorosa no Folha no Ar de quinta, Natália deu 4,5. E disse não falar só em seu nome, mas do Psol goitacá. Em painel de análise sobre a primeira metade de ano do governo, publicado nesta edição, com seis outros entrevistados, a nota ao governo teve uma média superior: 7,4.

 

Industrial: nota 8

“É o primeiro mandato do prefeito Wladimir. Ele tem todas as credenciais para fazer um bom governo e não enxergo nada que diminua essa possibilidade. Ele assumiu, como seus antecessores, um problema orçamentário de Campos que começa em 2000 e se torna crônico em 2012. Acho que ele pode ajustar alguma coisa, como na questão do Código Tributário. E ainda dou nota 8, esperando que esses próximos seis meses possam vir a confirmar, ou, caso contrário, nos obriguem a rever essa nota. Mas eu acredito no governo Wladimir, acredito no vice dele; Frederico Paes (MDB) tem uma bagagem muito sólida”, apostou Geraldo.

 

Psol: nota 4,5

“Preciso lembrar da reabertura do Restaurante Popular. Foi muito importante para as pessoas vulneráveis. E a gente reconhece isso. Mas a questão hospitalar, a ausência de insumos, medicamentos, permanece. A gente percebe que o governo cede à pressão das escolas privadas. É uma loucura reabrir no próximo semestre, mesmo no modelo híbrido. A gente tributa na conta da gestão a falta de diálogo com outros setores, passar portarias sem ouvir o conselho de educação, da mesma forma que acontece com o anfiteatro Kapi. Em democracia tem que existir contrariedade e diálogo. A média é 5? Está em 4,5”, avaliou Natália.

 

Regimento

O advogado Bruno Gomes, atual procurador da Câmara de Campos, disse que tem, junto com toda equipe procuradoria, uma missão: a de criar um novo regimento neste recesso. Que a Câmara faria mudanças, a coluna havia antecipado em 19 de junho. Porém, de acordo com Bruno, nem seria uma reforma, mas um novo regimento, evitando interpretações dúbias que existem no atual. Segundo o procurador, o presidente da Casa, Fábio Ribeiro (PSD), determinou que uma cópia da proposta seja enviada aos vereadores — após o recesso, no início de agosto —, para que todos participem de uma construção democrática para aprovação do regimento.

 

Confira nos vídeos abaixo, em três blocos cada, as entrevistas de Geraldo Coutinho e de Natália Soares ao Folha no Ar, respectivamente, de quarta e quinta:

 

 

 

 

 

 

 

Com o jornalista Arnaldo Neto

 

Publicado hoje na Folha da Manhã

 

Sociedade civil avalia os 6 meses de governo Wladimir

 

Nota 7,4 aos seis primeiros meses do governo Wladimir Garotinho (PSD). Esta foi a média entre as notas dadas à administração municipal no período, em ordem alfabética, pelo advogado Carlos Alexandre de Azevedo Campos, professor da Uerj e do Isecensa, e ex-assessor do Supremo Tribunal Federal (STF); o cientista político e sociólogo George Gomes Coutinho, professor da UFF-Campos; o especialista em finanças Igor Franco, professor do Uniflu; o empresário José Francisco Rodrigues, presidente da CDL-Campos; a pediatra Maria das Graças Ferreira Rangel, presidente do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec); e Raul Palacio, professor e reitor da Uenf.

Na verdade, a avaliação foi feita por cinco dos seis representantes da sociedade civil goitacá. A presidente do Simec declinou de dar nota ao governo, ainda que não tenha se furtado em fazer críticas, como ao projeto de terceirizar a administração das unidades e profissionais da Saúde Pública de Campos. Que foi, no entanto, defendido por outros. Os seis questionaram a falta de diálogo prévio com a sociedade, tanto na proposta do novo Código Tributário, quanto na polêmica do anfiteatro Antonio Roberto de Góis Cavalcanti, o Kapi, com a Praça da Bíblia, no Parque Alberto Sampaio. Como principal virtude da gestão, além de realizações como a reabertura do Restaurante Popular e a recuperação de estradas vicinais, foi apontada a capacidade de trabalho do prefeito, do seu vice, Frederico Paes (MDB), e sua equipe.

 

Carlos Alexandre de Azevedo Campos, George Gomes Coutinho, Igor Franco, José Francisco Rodrigues, Maria da Graças Ferreira Rangel e Raul Palacio

 

Folha da Manhã – De 0 a 10, que nota você dá aos seis primeiros meses do governo Wladimir Garotinho? E por quê?

Carlos Alexandre de Azevedo Campos – Havia dado, anteriormente, 8. Pela má condução do processo de mudança do Código Tributário, rebaixo a nota a 7.

George Gomes Coutinho – Penso que a nota razoável seja a suficiente para não reprovar e tampouco para aprovar com louvor. Penso que por enquanto a nota 7 nestes primeiros seis meses se aplique e sirva de incentivo para aprimoramentos. Mas, sabendo que aquele período onde há a “energia” das urnas, o primeiro ano está caminhando para término neste segundo semestre. Penso ser recomendável “aumentar a intensidade” das mudanças propostas ainda em 2021, não obstante considerar os problemas da conjuntura, o que inclui a pandemia.

Igor Franco – Nota 7. Após um início muito positivo, a meu ver, o governo perdeu um pouco o ímpeto e foi açodado em algumas iniciativas, como a reforma tributária, necessária, mas que precisa ser melhor debatida pela população. Além disso, deslizes como a aglomeração na inauguração do Restaurante Popular, o episódio do anfiteatro Kapi são deslizes desnecessários e evitáveis através do bom senso. Apesar de tudo, continuo satisfeito com os rumos da administração até o momento.

José Francisco Rodrigues – Quando o prefeito completou 100 dias de governo, eu havia dado nota 9. Os seis meses em que pesem algumas questões pontuais, como a disposição dele em reajustar tributos, poderíamos até me fazer rever esse conceito. Mas vamos manter a mesma nota e explico: quando houve a reação das entidades, o prefeito Wladimir retirou a matéria da pauta da Câmara e abriu um diálogo com as entidades. Por isso vou manter a nota, como forma de incentivo para que ele acerte e está acertando em muitas coisas.

Maria das Graças Ferreira Rangel – Opto por não pontuar por meio de nota, ao menos por ora, os seis primeiros meses do atual governo. Nós, do Simec, torcemos e esperamos que a atual gestão municipal cumpra com o seu programa governo, anunciado durante o último pleito eleitoral, em sua totalidade, e alcance resultados positivamente efetivos em prol de toda a sociedade campista, nos próximos meses e anos, beneficiando assim o desenvolvimento do município.

Raul Palacio –  A dedicação do prefeito, a participação ativa do vice-prefeito, a articulação política, a qualidade de vários secretários, o desempenho no combate à Covid e no pagamento dos servidores, o pacto com alguns setores e a abertura do Restaurante Popular são pontos positivos. Entre os negativos, a falta de diálogo com setores populares, a personificação de processos políticos, a não realização de licitações, a falta de processos eletrônicos, a relação com a Câmara e a política de aumento de impostos na pandemia. Minha avaliação é 7.

 

Folha – O prefeito assumiu decretando logo nos primeiros dias de janeiro o estado de calamidade financeira, aprovado por unanimidade na Câmara Municipal. E, no último dia 3, no Trianon, no balanço dos seis meses de governo, fez a projeção de superávit financeiro à Prefeitura de Campos, antes de fechar o primeiro ano. Como você viu e projeta? E por quê?

Carlos Alexandre – São números de um governo que afirmou cortar gastos. Devem provar. Esse exame comparativo nem sempre revela sobra de caixa. Recebeu uma contabilidade negativa e diz que a tornará positiva. Se são verdadeiros os números, o futuro dirá. Mas se existem sobras, que invistam no que parece urgente: infraestrutura de trânsito e saúde.

George – Sem o detalhamento fiscal/orçamentário, não é possível fazer projeções. Mas, partindo da premissa de que as informações fornecidas pela própria PMCG sejam fidedignas, o que é viável se lembrarmos da experiência passada da gestão Diniz e a penúria declarada no período, além do aumento da participação dos royalties na gestão Wladimir, o diagnóstico indica melhora na saúde orçamentária. O que é excelente notícia diante dos desafios da cidade. Cabe é olharmos com lupa a sustentabilidade deste orçamento superavitário.

Igor – A princípio, a trajetória do dólar aliado à alta do petróleo traz previsões de receitas crescentes até o fim do ano para o município. Porém, é preciso ser cauteloso ao divulgar um possível resultado positivo nas contas públicas. O maior risco é trazer pressões por maiores gastos públicos a partir da percepção da população de que a situação é confortável.

José Francisco – O estado de calamidade financeira se explica por fatores diversos, principalmente a pandemia, e o governo anterior deixou pendências. É uma ferramenta que o gestor público utiliza para renegociar contratos. Não vejo paradoxo em prever um superávit até o final do ano, embora seja uma meta difícil, mas existe alguns indicadores, como a alta do barril do petróleo no mercado internacional, que se reflete nos royalties. Existe essa possibilidade. Temos que torcer para que aconteça, mas não com aumento de impostos.

Maria das Graças – O destaque concedido recentemente pelo prefeito à possibilidade de Campos ter superávit  financeiro até o fim deste ano, que foi anunciado poucos dias após o estado de calamidade pública fiscal e financeira ser prorrogado até dezembro, em razão do risco de colapso na saúde, educação, mobilidade e administração, nos causou profundo estranhamento. Se há previsão de resultado financeiro positivo, qual é a real necessidade de adotar medidas austeras contra servidores públicos municipais e aprovar o novo Código Tributário?

Raul – Ao assumir em janeiro, a situação era financeiramente bem mais complexa que a de hoje. É notável o aumento no barril do petróleo e a entrada de “dinheiro novo” dos parlamentares federais. Creio que o Governo de Estado também vai destinar recursos ao município, em função da articulação política do prefeito. Mas entendo como prematuro falar de projeção de superávit. Poderia dificultar a fundamentação da correta política de austeridade e controle da folha que a Prefeitura está realizando. Certamente vai na contramão do pedido de aumento de impostos.

 

Folha – Entre julho e setembro de 2020, a Folha fez uma série de 11 painéis para buscar alternativas à crise financeira de Campos. Foram ouvidas 34 pessoas, entre especialistas de várias áreas, da iniciativa privada e sindicatos. Apesar das diferenças, houve unanimidade em três pontos: parceria com as universidades, retomada da vocação agropecuária e pregão eletrônico integral. Como vê o trabalho do governo em cada um deles?

Carlos Alexandre – Não me recordo de parceria com universidades, ou opção massiva pelo pregão eletrônico. No último caso, se ocorreu, foi pontual, longe do ideal. Com relação ao setor agropecuário, acho que a representatividade está assegurada pelo vice-prefeito, o que pode trazer benefícios para a região. Temos uma vocação rural, que deve ser explorada. Porém, parcerias com universidades públicas e privadas devem ser perseguidas: esse é o grande futuro social e profissional de nossa região.

George – Notei com Wladimir uma mudança importante de postura em relação aos pais: ele se engajou na luta por recursos para os novos prédios da UFF e demonstrou abertura interessada em diálogo com a academia. Convidou nomes importantes do setor, como Almy que já foi reitor da Uenf, para o estafe. Há potencial para parcerias que gerem tecnologia social a partir do conhecimento acumulado pelas instituições locais. Sobre o setor agropecuário, há ações em andamento em logística, escoamento da produção. Por fim, o pregão é ainda algo tímido.

Igor – Embora haja iniciativas isoladas a respeito dos três temas, cujos registros estão disponíveis no site da PMCG, parece-me não haver programas que unifiquem e tragam parâmetros para essas iniciativas. Seria muito positivo se, consolidadas em algum tipo de documento público ou apadrinhadas por gestores específicos, tivéssemos premissas, metas e verificação dos resultados obtidos em cada uma dessas iniciativas.

José Francisco – Temos o exemplo de Campinas, no interior de São Paulo, que virou uma potência a partir da Unicamp. Temos aqui a Uenf, UFF, IFF e outras, e temos que aproveitar isso. Quanto à questão do agronegócio, é ponto pacificado: é uma das potencialidades de Campos que havia sido abandonada. Lembrar aqui que no ano passado as duas únicas usinas em atividade movimentaram R$ meio bilhão e uma terceira usina está sendo reaberta. Sobre o pregão eletrônico isso é a transparência que queremos e o poder público é obrigado a fazer.

Maria das Graças – Campos é um polo universitário e isso precisa ser cada vez mais valorizado. Diversas parcerias podem ser firmadas, a exemplo do que ocorreu no início desde ano, quando o IFF doou diversos equipamentos de proteção individual, o face shield (proteção para o rosto). É preciso fomentar a geração de renda através da valorização e estímulo do pequeno produtor e do desenvolvimento da agricultura familiar. Quanto ao pregão eletrônico integral, este deve ser realizado com lisura e transparência em todo o seu processo.

Raul – O controle da folha e o pacto com alguns setores estão sendo realizados. O trabalho está no início, entretanto, na direção certa. No caso da Uenf, estamos em contato com várias secretarias municipais e temos como principais interlocutores o vice-prefeito e o secretário municipal de Educação, Ciência e Tecnologia. A informatização dos processos da Prefeitura e o pregão eletrônico geral são pontos deficitários nestes primeiros seis meses. Acredito que as pessoas ouvidas também concordaram em relação à impossibilidade de aumento de impostos.

 

Folha – Em 15 de maio, o ex-governador Garotinho (sem partido) comandou uma reunião na Lapa sobre a votação das contas da ex-prefeita Rosinha (Pros) em 2016, cuja reprovação em 2018 foi anulada em 2021. Estavam 14 vereadores da base, entre eles o presidente Fábio Ribeiro (PSD), e Wladimir. Seu pai disse: “o governo tem dentes e pode morder”. Soou ameaça e começou a gerar distensões. Como você vê? Qual o limite dos pais no governo do filho?

Carlos Alexandre – Bola muito fora. Um olhar para o passado para quem tem que construir um futuro. Se o Executivo tem dentes e morde, a Câmara tem remédios e o governo já teve prova disso. Ademais, o povo campista já mostrou que sabe rejeitar o grupo Garotinho em primeiro turno. Wladimir, se tem ou não futuro, depende do quanto se prender ao passado. Hoje, não faltam adversários, até mais preparados pelo tempo. Que Wladimir não se enfraqueça pelo passado, pois só ele tem a perder. É a fraqueza dele, até aqui. O pai deve se manter distante.

George – Por vezes é algo da retórica política, mesmo que nos soe desagradável. Se entra no campo da ilegalidade ou ameaça ao Estado de Direito, aí é outra coisa. Bolsonaro está aí como exemplo negativo do que pode causar. Já sobre o limite dos pais, este será dado pelo prefeito. E será tanto ou mais permissivo quanto ele julgar que deve ser. Contudo, algumas concessões seriam inevitáveis. No campo das lealdades, Wladimir tem sim débito com o capital político de seus pais. A questão é o “como” irá encaminhar as demandas que chegarão vindas deles.

Igor – A sinalização é muito negativa. Talvez um dos maiores trunfos de Wladimir na sua articulação política seja a percepção pela maior parte da população de que ele atua com independência em relação aos pais nas decisões administrativas e estratégias de políticas públicas. Manter o governo com essa imagem não envolve apenas afirmações sobre liderança, mas demonstrações públicas sobre os limites da articulação dos pais.

José Francisco – Não estava presente obviamente nessa reunião e não conheço detalhes sobre seus bastidores. Como representante de uma grande parcela de empresários, e me refiro ao comércio, não sou afeito a essas terminologias políticas. Não posso comentar o que alguém disse, se não ouvi. A política tem dessas coisas. Prefiro dizer que isso faz parte dos bastidores da política, que pouco que conheço.

Maria das Graças – O sucesso de um governo democrático dá-se através da separação dos poderes, que devem ser independentes e harmônicos entre si. Quaisquer tentativas de interferência ou intimidação na atuação do outro é passível de atrito e prejudicial à população. E deve ser combatida para não comprometer os limites nas atribuições de cada esfera. Quanto ao governo, ele deve ser gerido de forma independente pelo candidato que pleiteou o cargo, visto que a população o elegeu e não a sua família à Prefeitura.

Raul – O prefeito vem de uma família muito unida e com forte participação na política, não usar a experiência dos governadores seria um contrassenso. Entretanto, entendo que tem governado de forma independente. Logicamente, as suas ações são resultado da sua formação técnica e da educação familiar. Vejo como positiva a paixão com que trabalha. E, como negativa, a personificação dos problemas, em detrimento da institucionalização dos mesmos.

 

Folha – O governo abriu a última semana de abril com 23 vereadores dos 25 vereadores. E chegou a junho com 15, após aprovar 12 dos 13 projetos do seu pacote de austeridade, três deles com cortes ao servidor. Favoráveis a eles, três edis, no entanto, foram contrários ao Código Tributário, retirado de pauta duas vezes. O governo agora articula para reconquistar a maioria mínima para aprová-lo. Como avalia o racha na base e essas idas e vindas?

Carlos Alexandre – Acho que Wladimir esqueceu o traquejo de parlamentar. Que fica sempre entre a política do seu governo e os interesses da sua base, disputa ainda mais dramática no nível municipal. Não é fácil, ao vereador, pensar no orçamento e no bolso do seu eleitorado. Faltou diálogo sobre mudança de tributos. Wladimir, com mudanças sem debate prévio, abriu espaços ao protagonismo dos edis contrários. Criou uma plataforma para seus opositores; pior, criou novos opositores. E regime de urgência para tratar de Códigos é inconstitucional.

George – Os rachas devem ser contextualizados. No caso da pauta tributária, parece que os vereadores sofrem assédio ou são eles mesmos representantes diretos de determinados grupos de pressão importantes. O empresariado local, a despeito de termos um dos piores cenários de justiça tributária do planeta Terra, costuma se organizar invariavelmente quando o tema envolve tributação a partir de capacidade real contributiva. Portanto, diante destes grupos, pode falar mais alto para determinado vereador a lealdade a estes do que ao prefeito.

Igor – A perda de apoio legislativo em pautas antipáticas à população, como medidas que afetam servidores e aumento de impostos, é esperada. Porém, ainda vejo possibilidade de o governo conseguir rearticular a base em torno de uma proposta comum. Por mais impopulares que sejam essas medidas, dificilmente o município conseguirá sustentabilidade de longo prazo sem atuar nas duas pontas: redução de custos e aumento de receitas.

José Francisco – Na verdade, 13 vereadores se comprometeram a votar contra o novo Código Tributário, a partir, creio eu, do resultado de uma histórica união de 10 entidades representativas de classe. Nossa intenção passa longe de tentar provocar um racha na base legislativa do governo. O que não queremos é aumento de impostos. E nem é porque não queremos, mas, sim, porque não podemos. Não temos condições de absorver reajuste de impostos em nenhum nível.  Essa é a questão.

Maria das Graças – É preciso governar com liberdade, verdade, comprometimento, legitimidade e sem idas, para que as vindas também não se façam necessárias. Assim como o Legislativo deveria cumprir as suas funções de forma harmônica e independente dos demais poderes. O cenário atual e as interferências acabam por insinuar que há imposição de limites entre os poderes, o que não é, nem de longe, saudável para uma sociedade democrática como a nossa.

Raul – No meu ponto de vista o processo está errado desde o início. Os vereadores se devem ao povo, os cargos em comissão se devem a projetos institucionais de qualidade, o prefeito tem que dialogar com a Câmara e explicar as suas ideias. Acredito que o acordo de apoio inicial deu a falsa sensação de apoio incondicional e “precarizou” a relação entre o Legislativo e o Executivo municipais. Todos perdemos com isso.

 

Página 2 da edição da Folha da Manhã de hoje

 

(Foto: Genilson Peçanha/Folha da Manhã)

 

Folha – Apesar de votaram a favor de 12 dos 13 projetos do governo, os edis Raphael Thuin (PTB), Bruno Vianna (PSL) e Fred Machado (Cidadania) ficaram com o comércio e contra o Código. Os dois primeiros foram punidos com a exoneração de DAS e RPAs indicados, o que levou um projeto importante e exitoso como o Paraesporte a ser abrigado na Uenf. Os dentes do governo têm como morder sem mastigar junto o interesse social?

Carlos Alexandre – Os vereadores fizeram o que era certo, o que não significa, necessariamente, backlash (folga) da sociedade civil. O errado está em pensar que o social e o esporte só podem vir do Estado. Certo mesmo são esses vereadores buscarem a iniciativa privada desde sempre. A sociedade deve ser solidária, não dependente inteiramente do Estado. Contudo, apesar de fazer parte da política, é um erro de um governo em início começar a se vingar dessa forma. É uma péssima mensagem.

George – Não acompanhei os detalhes nesse caso, as punições pela falta de lealdade destes quadros do Legislativo. Precisaríamos compreender quais ganhos ou perdas, pensando em consequências para a sociedade, decorreram da mudança de lócus do projeto para a Uenf. Interesses da sociedade devem ser pensados nas consequências positivas ou negativas dos movimentos ocorridos no âmbito político. A priori a sede em si não implica eficiência, eficácia ou efetividade. Importa é o “como” se implementa uma política pública.

Igor – Os efeitos colaterais de rompimentos políticos, invariavelmente, acabam atingindo a população na maioria das vezes. A extensão do dano é diretamente ligada à qualidade da política e da composição promovida, principalmente, pelo Executivo. A percepção que tenho quanto à atuação de Wladimir, nesse sentido, ainda é positiva, dentro das circunstâncias brasileiras. Porém, é preciso que haja demonstrações práticas dessa disposição em fazer diferente. Ao tomar medidas que levem um projeto social a buscar pouso em outra jurisdição, a sinalização é muito ruim.

José Francisco – A questão não é morder nem mastigar. A questão é perceber que o eleitor não quer engolir esse tipo de coisa. Eu vejo esse tipo de coisa na esfera políticas, da qual sempre mantive a prudente distância. Os vereadores tomaram posição com o que acham justo. Essa questão de cargos, retaliações, fica neste âmbito. Não faz parte da nossa pauta.

Maria das Graças – Enquanto a união poderia fazer bem mais pela população, infelizmente, muitas vezes é a sociedade quem sofre com as disputas políticas. É preciso que o Executivo e o Legislativo tenham o mesmo foco: o bem-estar da população. A população não está muito preocupada com os “dentes do governo”. A população, a mesma que elegeu os representantes dos poderes, quer segurança para que ela trabalhe, preservação de seus direitos e saúde, especialmente nesse período de pandemia e calamidade.

Raul – Primeiramente, é importante destacar que a vinda do Para-Esporte e o Via Esporte para a Uenf é um sonho antigo. Não há relação política, nem partidária nisso. Entretanto, entendo que os cargos comissionados não deveriam ser tratados como moeda de troca de votos, mas sim para o atendimento de projetos de interesse da sociedade. Se o projeto é importante, deve rever recursos, independente do padrinho político do mesmo. Também entendo que a colocação de servidores públicos em cargos estratégicos valoriza o funcionalismo.

 

Folha – Thiago Rangel (Pros) foi um vereador que saiu do governo e voltou após ganhar cargos na Empresa Municipal de Habitação (Emhab), para tentar aprovar o Código Tributário. Como avalia esse aparente toma lá/dá cá? É um reflexo local do que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) chamou de “presidencialismo de coalizão”? Há contradição com a afirmação pública do prefeito: “acabou a época do cabide de emprego”?

Carlos Alexandre – O eleitor do Thiago Rangel deve vê-lo como quem vendou o voto pelo cargo, e cobrar dele isso. Nosso desenho institucional, começando pelo constitucional, permitiu isso. Wladimir não fugiu à regra: trocou voto por cargos. Isso não é um problema antijurídico, é um problema de desenho institucional. Faz parte do processo político, para o bem e para o mal.

George – O termo “presidencialismo de coalizão” é criatura de Sérgio Abranches (sociólogo e cientista político) e tenta explicar os arranjos da construção de maiorias legislativas, dotadas de instabilidade estrutural, no mundo. A negociação envolve tanto a grande política de princípios, valores e programas, quanto a pequena política de cargos, verbas para as bases. A própria complexidade do processo legislativo opera com as duas lógicas. Demonizar uma delas significa inviabilizar os processos de decisão em sociedades dotadas de alta complexidade.

Igor – Sim. Dentro da política, há, sim, espaço para distribuição legítima de cargos entre aliados. O grande problema é a qualidade dos quadros que são alocados. Historicamente, os cargos assumidos atendem apenas a critérios de afinidade, com a competência técnica para o cargo ficando totalmente escanteada. Extirpar essa prática é desejável, mas sou bastante cético em relação a essa possibilidade, principalmente em contextos mais desafiadores à articulação política, como vem sendo a pandemia.

José Francisco – Os políticos dizem que faz parte do jogo e o jogo político muitas vezes é questionável. Para não entrar em um campo que desconheço, prefiro focar na nossa questão que é meramente econômica. Política e econômica caminham juntas, mas muitas vezes são antagônicas. O fato de estarmos tratando disso aqui é um avanço. Para resumir, o ideal seria que tivéssemos avanços políticos e avanços econômicos, e desta forma certamente alcançaríamos um denominador comum, que é o que perseguimos.

Maria das Graças – Esse arranjo político-institucional, com a finalidade de ocupar cargos no governo diverge completamente da afirmação: “acabou a época do cabide de emprego”. Tais alianças somente teriam funcionalidade se, em um mundo ideal, prevalecesse a união de medidas democráticas e éticas em benefício do bem-estar da sociedade e desenvolvimento do município, independentes de suas bases.

Raul – O sistema presidencialista faz com que o poder executivo tenha que dialogar constantemente com o legislativo. A troca de favores ou a indicação de cargos em comissão como contrapartida ao apoio político fragilizam e corrompem a democracia. Infelizmente é uma prática comum nos governos em nível federal, estadual e municipal. Essa “facilidade” termina criando muitos “reféns” nesse processo e afeta até a qualidade da eleição legislativa.

 

Folha – Os vereadores que saíram do governo reclamaram de pouco tempo para estudar os projetos. Assim como os segmentos da sociedade por eles afetados. Com o setor produtivo, o diálogo agora caminha para tentar aprovar o Código. Mas esse debate não teria que ser prévio? A retomada do Conselho Municipal de Desenvolvimento (Comudes) é um passo necessário nesse sentido? Como avalia o novo Código Tributário? É uma demanda fiscal?

Carlos Alexandre – Aí reside o grande erro deste governo. Qualquer alteração tributária, ainda mais alterando a carga tributária, deve ser amplamente debatida. Tentaram impor mudanças sem qualquer debate. Grande erro. Pouca importa o órgão. Não há monopólio no debate. Todos os setores interessados devem participar. E repito: a Constituição Federal, a Estadual, nossa Lei Orgânica, todas proíbem regime de urgência para aprovar Código; penso que também para alterar, ainda mais mudanças substanciais.

George – Eu não tenho os detalhes e espero que novo Código vá em direção do enfrentamento dos problemas de injustiça tributária que assolam o país. Nem que seja nos limites do âmbito local, mitigando injustiças encontradas no Brasil. Abordando o problema do debate, eis um ponto e tanto. Medidas assim, para serem recepcionadas enquanto legítimas, precisam da participação dos grupos interessados e dos diretamente afetados. A negociação é que torna mais ou menos democrática a tomada de decisão.

Igor – A discussão ampla com a sociedade é essencial. O governo tem a prerrogativa de encaminhar a proposta, mas o Legislativo deve abrir amplo canal de participação popular. Além de tudo, há uma percepção generalizada no Brasil de que os impostos não são revertidos de forma satisfatória à população, logo, nenhum brasileiro está pré-disposto a aumentar sua contribuição ao erário. É tarefa dos poderes políticos comunicarem à população sobre a motivação da proposta e chegarem a um meio-termo entre o desejável e o possível.

José Francisco – Boa pergunta. A retomada do Conselho é essencial e isso foi anunciado em uma reunião recente na CDL da qual participaram o prefeito Wladimir e o seu vice Frederico Paes, além do presidente da Câmara, Fábio Ribeiro. É fato que as entidades ficam sabendo quase nada do que está sendo planejado e desta forma não pode se posicionar, e quando falo em posicionar quero dizer colaborar com ideias e argumentos. O Conselho é a solução porque, com ele, pelo menos o fator surpresa deixa de existir. Foi uma decisão madura do prefeito.

Maria das Graças – Sim, considerando a relevância da pauta e os possíveis impactos na sociedade, sobretudo, os negativos, o debate deveria ter ocorrido previamente de forma ampla, para evitar quaisquer concretizações às pressas. Não é correto abordar opções administrativas, sob argumento de elevação de receitas, de modo oculto. O novo Código é inoportuno em um momento em que a própria anuncia a possibilidade de superávit. O Código será o financiador do saldo positivo ao fim do ano? Deixo aberto o questionamento.

Raul – O debate tem que ser constante, a argumentação leva à solidificação das propostas. A apresentação de estudos prévios é de fundamental importância para entender o problema e as soluções propostas. A realização de audiências públicas permite a colaboração, importantíssima, da sociedade. Só após a realização de todas essas etapas poderemos ter certeza do voto em favor da sociedade. Em relação ao Código Tributário, me parece que faltaram todas essas etapas, inclusive uma etapa prévia, que seria a licitação dos serviços.

 

Folha – No dia 28, Wladimir anunciou parceria com a Associação Evangélica de Campos (AEC) para recuperar o Parque Alberto Sampaio, que seria chamado de Praça da Bíblia, incluindo o anfiteatro que leva o nome do falecido diretor teatral Antonio Roberto de Góis Cavalcanti, o Kapi. Após forte reação da classe artística, o prefeito fez um recuo parcial, mantendo o nome de Kapi ao anfiteatro e propondo a divisão do parque público entre artistas e religiosos. Dará certo? O Conselho Municipal de Cultura (Comcultura) não deveria ter sido consultado antes?

Carlos Alexandre – O governo recuou pela pressão, e isso é um bom sinal, pois mostra a disposição para dialogar. Só o futuro dirá se vai dar certo. Não há impedimento para a divisão, desde que definam bem como o imóvel será compartilhado. Deve começar por restaurar o espaço, que está bem deteriorado. Sobre a comunicação ao Conselho, teria sido boa política o diálogo prévio.

George – Sem dúvida. O Conselho é órgão plural, envolve a sociedade civil e deveria sim ter sido consultado. Considero esse tipo de demanda preocupante. A despeito de termos uma maioria cristã no Brasil, as minorias continuam pagando impostos e não devem ser esmagadas simbolicamente. Eis o que diferencia sociedades democráticas de regimes com pretensões totalitárias. As minorias são protegidas da “tirania das maiorias” como diria Tocqueville. De todo modo, a despeito da tentativa de conciliação, o avanço da pauta em si não é bom sinal.

Igor – A consulta deveria ter sido feita anteriormente. A princípio, parece haver um antagonismo entre o uso que será feito pela AEC e o uso que seria feito pela classe artística. Sem trocadilhos, eu não apostaria numa conciliação entre os dois atores.

José Francisco – Pelo que acompanhei pela imprensa, o prefeito buscou uma espécie de parceria pública com um setor que não é essencialmente privado. Essa é uma experimentação que só saberemos o resultado depois que começar a funcionar. As praças cumprem o papel de centros de convivência independente de religião. Mas é possível a convivência ecumênica. Não dá para julgar antes dos resultados. Sobre o anfiteatro abrigado pelo Parque, o Conselho de Cultura poderia e deveria ter sido consultado, mas parece que o problema foi resolvido.

Maria das Graças – Vale ressaltar que o Brasil é um Estado Laico, e isso significa que nenhuma religião tem prioridade sobre as outras e que o Estado não pode nem apoiar nem impedir as práticas religiosas. O dever do município é priorizar a revitalização e a conservação das áreas públicas, para fins de fomentar, democraticamente, atividades de lazer e cultura para toda a população, independente de religião.

Raul – A procura de parceiros para resolver os problemas da cidade é extremamente válida, a troca de exigências em função do serviço prestado é que me parece incorreta. O Estado é laico e os espaços são de todos e não de uma religião específica. Entendo que nesse ponto também faltou diálogo e comunicação.

 

Folha – Em 11 de junho, ao programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, Wladimir listou as realizações do seu governo: 1) pagar salários dos servidores em dia, 2) pagar dezembro e 13º deixados em aberto pela gestão passada, 3) retornar as vans ao Centro, 4) reabrir o Restaurante Popular, 5) recuperar 100 km de estradas vicinais e 6) retomar as obras do Shopping Popular. Como você analisa?

Carlos Alexandre – São medidas positivas, mas ainda há muito a fazer. As ruas de Campos estão estado deplorável, acidentes se multiplicando. Os hospitais precisam de reformas. Mas penso que o Governo está atuando, está trabalhando. Não há inércia.

George – Bem, são ações concretas e importantes. Mas é importante notar que algumas destas, como pagar salários em dia, são rotina. Perplexidade mesmo é quando não conseguem, vide o governo anterior. As outras medidas envolvem um pouco mais de pro-atividade e atendem demandas existentes, vide o Restaurante Popular ou a recuperação das estradas vicinais. O porém é que ainda estão longe da ousadia, da invenção, da inovação. Campos precisa buscar novas dinâmicas sociais, culturais e econômicas.

Igor – As medidas elencadas pelo prefeito parecem ter tido impacto positivo na opinião pública. Parte da entrega se deve ao sucesso na articulação política nacional e estadual; parte se deve a uma conjuntura econômica mais favorável aos municípios produtos de petróleo. O prefeito deveria aproveitar o bom momento junto à população para estruturar medidas de longo prazo, como vem tentando fazer com a reforma tributária e mudanças administrativas. O risco é o governo se acomodar com o bom ritmo até agora e abandonar as medidas de equalização fiscal.

José Francisco – Ele assumiu com duas folhas de pagamento atrasados e está solucionando o problema. O Restaurante Popular era promessa de campanha e o Camelódromo, embora particularmente considere desafinado com o conjunto arquitetônico do Mercado Municipal, é uma obra em curso, onde resta dar tratamento final. As vans no Centro, na avenida 7 é uma reivindicação dos comerciantes para tentar revitaliza aquela parte da área central. Os 100 quilômetros de estradas são essenciais para o redesenho da agropecuária. A análise é positiva.

Maria das Graças – A pontualidade do pagamento dos salários dos servidores trata-se de um dever do município e deve sempre ser tratada de forma prioritária. É de suma importância mantê-los sem atraso, para que não se incorra em ato grave contra o servidor. No entanto, não há motivos para a gestão pública vangloriar-se, e ainda há muito a ser feito. O pagamento do saldo remanescente do 13º de 2020, por exemplo, não foi efetivado para todas as categorias. É urgente trabalhar em prol da população, sobretudo da parcela mais carente.

Raul – Indiscutivelmente um trabalho de destaque, fruto da dedicação de muitos e da liderança do prefeito. Certamente, a arrecadação ajudou, mas a dedicação, o conhecimento e o preparo do funcionalismo e do Executivo municipal levaram a esse resultado. Sem dúvida o resultado é fruto do de um trabalho coletivo. Nesse caso, estão todos de parabéns!

 

Folha – O governo Wladimir já promoveu dois lockdowns em Campos este ano, para tentar conter a segunda onda da pandemia da Covid. O último foi abreviado pela mobilização do mesmo comércio que até aqui barrou a aprovação do Código Tributário. Como analisa o combate à pandemia pelo poder público municipal? Maior empregador do município, junto da Prefeitura, o comércio goitacá retoma a força política que já teve em passado recente?

Carlos Alexandre – Acho que o Governo atuou positivamente no combate. Foi rígido quando deveria ter sido e soube a hora de flexibilizar. É triste ver o Centro da cidade abandonado, porém. A revitalização do Centro tem que entrar na pauta dessa relação dos comerciantes com o governo. Penso, sim, que o comércio está retomando um papel político importante.

George – Creio que a Prefeitura tem tentado dar conta das demandas da pandemia. Porém, tem se mostrado porosa a interesses de determinados grupos, que só têm mirado no curtíssimo prazo. Contudo, o acompanhamento dos leitos em UTI tem sido o ponto de inflexão, onde o prefeito toma suas decisões de maior ou menor abertura. Quanto ao setor do comércio, a minha pergunta é: quando estes atores deixaram de ser politicamente relevantes? Mesmo atuando nas franjas, o empresariado sempre manteve proximidade com o poder local.

Igor – Para ser justo, desde o governo Diniz a Prefeitura de Campos se destacou pela adesão à ciência. Entendo que Wladimir continua com saldo positivo, entre erros e acertos, inevitáveis num momento delicado como o que vivemos. O pós-pandemia traz muitas dúvidas sobre o futuro das vendas presenciais. Talvez, uma estratégia adequada seria a Prefeitura usar uma via de mão dupla: apoiar os comerciantes com inovação em troca de apoio a projetos estratégicos na visão da administração, como a reforma tributária.

José Francisco – Não se discute aqui se houve ou não a necessidade do lockdowns. O que sempre advogamos é que o comércio não era vetor da transmissão do vírus. Nenhum outro segmento seguiu tão à risca os protocolos. Mas foi o setor que pagou o preço mais alto. É exatamente por isso que não temos condições de arcar com reajustes de impostos. Mais de 15% do setor não suportou a pandemia e fechou. O restante queimou suas reservas. Quanto à força, não quero medi-la, mas ela existe e um exemplo cabal disso foi a união das entidades.

Maria das Graças – O combate à pandemia, ainda que por medidas drásticas, salva vidas. No entanto, o cortejo entre o fechamento de postos de trabalho e a proteção à saúde advindas resultou em decisões delicadas quanto ao fechamento temporário, haja vista que os danos no setor do comércio foram grandes. Controlar a disseminação com criação de locais exclusivos para a testagem e diagnóstico, tratamento e monitoramento da Covid-19, poderia ser uma forma da Prefeitura evitar novos fechamentos no município e proteger também a economia.

Raul – O governo acertou quando chamou o comércio e os empresários para o debate sobre a situação do município em relação à Covid-19. Os números apresentados, fruto do trabalho do Dr. Charbell, da sua equipe e toda a secretaria de Saúde, permitiram que os comerciantes entendessem a situação e apoiassem as ações que foram tomadas. Deu muito certo. Não continuar com a mesma metodologia para o Código Tributário me pareceu um contrassenso. O trabalho no combate à Covid-19 está sendo muito bom, sempre utilizando a ciência como base.

 

Folha – Dos comerciantes aos médicos, a categoria é contra terceirizar a administração das unidades e profissionais da Saúde Pública de Campos. Após a tentativa desastrada de fazê-lo sem licitação com uma empresa sob a qual pairavam denúncias, o projeto agora é fazê-lo por pregão eletrônico, exigindo experiência na gestão de saúde de uma cidade do porte de Campos. Parece ser um ponto inegociável do governo. Qual a sua opinião? E por quê?

Carlos Alexandre – Veja, a saúde é aberta à iniciativa privada. Portanto, havendo processo licitatório e equilíbrio financeiro na contratação, acho que será muito positivo para os campistas. O processo deve ser o mais transparente possível e a sociedade precisa fiscalizar os serviços.

George – Não me parece ser boa solução. Há inúmeras controvérsias envolvendo qualidade da gestão e sustentabilidade. A terceirização, na média, não tem produzido os resultados prometidos. Não há garantia alguma que a terceirização por si produzirá melhorias. Isto é fetichismo.

Igor – Sou a favor de todas as medidas que tragam mais eficiência ao setor público. Um grande problema no Brasil é que, dada a dificuldade de realizarmos mudanças, deixamos determinadas situações chegarem a um ponto tão esgarçado que a mudança se impõe de forma abrupta, sem diálogo. Acho que a experiência é válida, mas precisamos atribuir objetivos, metas claras, bem divulgadas à população em geral e às partes interessadas e, principalmente, avaliar os resultados.

José Francisco – Temos em Campos a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, o Sindicato dos Médicos, os Conselhos referentes a cada uma das atividades médicas e correlatas, como enfermagem entre outras. Pelo que vejo eles estão atuantes nesta questão.

Maria das Graças – É um erro absoluto entregar a administração das unidades hospitalares e dos profissionais da Saúde Pública aos cuidados de uma instituição privada. Além de representar o início da privatização da Saúde, esse novo modelo de gestão já se mostrou ineficaz em diversos outros municípios. Enquanto há grandes hospitais públicos sob administração pública que são exemplos bem-sucedidos de gestão, inclusive, no Estado do Rio. A gestão dos serviços de saúde deve ser realizada por profissionais existentes na administração pública.

Raul – Alguma coisa precisa ser feita e é uma possibilidade. Quem tiver uma opção melhor que a apresente. Pessoalmente acredito que, antes da entrada da iniciativa privada, poderíamos tentar chamar o funcionalismo municipal para administração da saúde. Preocupa-me o fato de abrimos mão do controle público da saúde. Além de valorizar o servidor, teríamos uma economia de recursos. Não sei como está o diálogo com o funcionalismo da Saúde em relação ao tema. Agora, se vai ser feito, fazer esse processo através de uma licitação me parece correto.

 

Folha – Até a primeira semana de julho, Campos recebeu em 2021 R$ 227.935.796,89 de royalties e Participações Especiais (PEs) do petróleo. No mesmo período de 2020, o governo Rafael Diniz (Cidadania) havia recebido apenas R$ 137.679.350,12. Ao governar o Brasil no boom internacional das commodities, o ex-presidente Lula (PT) disse que um governante precisa ter sorte. Wladimir está tendo?

Carlos Alexandre – Sorte é ter royalties (risos). Por certo que todo governo precisa da ajuda dos astros, sem dúvida. Mas também sem diálogo e trabalho, não há sorte que resolva. Penso que Wladimir poderia se abrir mais ao diálogo com os diferentes setores da sociedade, tomar medidas mais negociadas, debatidas. Isso atrai apoio. No mais, trabalho duro, que penso estar existindo.

George – Ao que parece, Lula é leitor da Maquiavel. Sim, a sorte é importante. Lidar com uma tragédia, uma intempérie, pode queimar o capital mesmo do político mais capaz. Mas, aí com Maquiavel, sorte sem habilidade, capacidade e inteligência, não é garantia de nada. O cenário mais interessante ao político é ter uma bela onda para surfar. E saber surfar. Dominar a técnica. Sim, Wladimir se depara com um cenário melhor que o do governo anterior. Torço que ele e seu grupo tenham inteligência política para saber aplicar esses recursos.

Igor – Sem dúvidas, o cenário hoje é muito mais favorável ao governo atual. A conjunção de dólar alto e petróleo voltando às máximas de 2018 são extremamente favoráveis aos municípios produtores. Porém, o contexto do atual “boom de commodities” é muito diferente. Hoje, temos entes federativos endividados, com folhas de pagamento elevadas, sem espaço para expansão fiscal. O governo precisa ter o discernimento de aproveitar o bom momento para equalizar as contas e firmar bases de sustentação para o longo prazo.

José Francisco – Olha, espero que isso seja mesmo verdade. Acreditamos na força do trabalho, mais o fator sorte existe, sim. Realmente no que se refere a questão dos royalties, como já coloquei em resposta anterior, o cenário é promissor, com a expectativa de alta crescente do barril de petróleo no mercado internacional. Esse preço internacional é a referência para o pagamento de royalties. Queremos que o governo Wladimir dê certo, como desejamos que os anteriores também tivessem dado.

Maria das Graças – O prefeito precisa ter competência, princípios éticos e valores honestos para gerir a administração pública de forma idônea, sempre pautando a sua gestão no cumprimento das normas previamente estabelecidas e no atendimento aos princípios de legalidade e eficiência. Cabe ao governante do município elaborar adequadamente o orçamento municipal, antevendo as receitas e estabilizando as despesas, conforme programação apropriada, em benefício da assistência, cuidado e proteção da população.

Raul – Entendo que a sorte mascara o trabalho e a dedicação de um grupo de trabalho. Os valores têm aumentado, entretanto. As decisões tomadas para o pagamento das folhas em atraso e os fornecedores não guarda relação com a sorte. A chamada sorte não está impedindo o trabalho político para a chegada de dinheiro federal ou a abertura do Restaurante Popular.

 

Folha – Nestes seis meses, quais foram, em seu entender, as maiores virtude e erro do governo Wladimir? Se ele pudesse escutar um conselho seu à administração dele, qual seria?

Carlos Alexandre – A maior virtude é o trabalho. Não vejo um governo se escondendo dos problemas, mas enfrentando-os dentro da sua ordem de prioridades. O maior defeito foi revelado na proposta do Código. É uma péssima ideia tentar ser patrão da Câmara. Rosinha fez o mesmo entre 2014 e 2015, e derrubei como inconstitucional o Código Tributário inteiro dela no TJ. Meu conselho é dialogar mais com vereadores e a sociedade. O governo de Wladimir, até aqui, é bom. Para ser excelente, precisa não repetir erros que seus pais cometeram.

George – Penso que há um esforço importante de trazer recursos extras para a cidade e é de inegável relevância o retorno da proposta do Restaurante Popular. Entre os erros está a abertura para determinados grupos de pressão que não estão e jamais tiveram qualquer tipo de compromisso com o interesse público. Por fim, se pudesse dar um conselho, é preciso olhar para as periferias da cidade. Penso que ali há uma gente que precisa de requisitos mínimos de dignidade, que envolve saneamento e mobilidade urbana de qualidade, para deslanchar.

Igor – Há méritos na condução da articulação política junto ao Estado e ao Governo Federal. O governo municipal também promove uma comunicação mais eficaz que o antecessor, o que pode contribuir para uma melhor impressão sobre o primeiro ponto. A famosa aglomeração no Centro, na inauguração do Restaurante Popular, foi uma péssima sinalização, bem como a açodada tramitação da reforma tributária. Quanto ao conselho, o governo não pode perder de vista que a situação das contas públicas ainda é sofrível e demanda um ajuste de longo prazo.

José Francisco – Movido por sua juventude, com uma certa experiência, já que foi deputado federal, Wladimir mostra grande capacidade de trabalho. O erro foi não discutir questões como o do Código Tributário, mas parece que ele se recuperou ao anunciar a retomada do Comudes. O conselho é exatamente esse: discutir, acionar conselhos e entidades em todos os níveis, governando junto com todos. Boa parte das lutas da CDL não são afeitas somente ao comércio, mas em prol de toda sociedade.

Maria das Graças – Aconselho ao prefeito a ter fidelidade com o seu povo, disponibilidade para ouvir a população, constante postura de diálogo com as entidades sindicais aliada à capacidade de decisões inteligentes a serem adotadas sempre em prol dos atendimentos aos anseios coletivos, comprometimento com a gestão, além da valorização e estímulo ao servidor público que é, de fato, quem dá a devida sustentação ao município. Aconselho ainda, que o líder do Executivo busque estimular, obstinadamente, o desenvolvimento econômico de nossa cidade, bem como fortalecer e recuperar os serviços existentes.

Raul – Na primeira resposta já esclarecemos esse ponto. O único conselho que daria seria trabalhar na institucionalização dos problemas, na comunicação e no debate com a sociedade. Logicamente, incluindo a Câmara. Através do diálogo e do debate a gente vai mais longe.

 

Página 3 da edição da Folha da Manhã de hoje

 

Publicado hoje na Folha da Manhã

 

Prefeito do Rio, Eduardo Paes no Folha no Ar desta 6ª

 

(Arte: Joseli Mathias)

 

A partir das 7h da manhã desta sexta (09), o convidado para fechar a semana do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, é o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). Em participação da capital, mais curta que as duas horas normais de programa, o tema central da entrevista será o governo da cidade do Rio e a política fluminense.

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta sexta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Kapi, Código, Wladimir e 2022 no Folha no Ar desta 5ª

 

(Arte: Joseli Mathias)

 

A partir das 7h da manhã desta quinta (08), a convidada será a professora Natália Soares, ex-candidata a prefeita de Campos pelo Psol. Ela falará da polêmica do Parque Alberto Sampaio (confira aqui e aqui), entre o anfiteatro Antonio Roberto de Góis Cavalcanti, o Kapi, e a Praça da Bíblia; assim como da ocupação do conjunto habitacional Novo Horizonte (confira aqui e aqui), no Parque Aeroporto; e da oficialização da imissão de posse aos assentados do MST no acampamento Cícero Guedes (confira aqui), nas terras da antiga usina Cambahyba.

Natália também falará da proposta do novo Código Tributário e do papel do setor produtivo em sua renegociação, assim como os seis primeiros meses (confira aqui e aqui) do governo Wladimir Garotinho (PSD). Por fim, ela vai falar do Brasil do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e das suas perspectivas para as eleições de 2022.

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quinta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Partidos abandonam Bolsonaro no voto impresso

 

(Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE)

 

Vera Magalhães, jornalista

Bolsonaro sozinho no voto impresso

Por Vera Magalhães

 

À medida em que se agrava a crise no governo em razão das descobertas da CPI da Covid e que fantasmas do passado, como o das rachadinhas familiares, voltam para a assombrar Jair Bolsonaro, os partidos vão dando demonstrações consistentes de que podem até estar aproveitando o bem-bom da bonança orçamentária concedida pelo seu governo, mas não vão com ele até o final “duela a quien duela”.

E esta é uma grande notícia para a democracia, por mais que não se possa celebrar intenções republicanas da parte de quase nenhuma das siglas partidárias brasileiras.

É especialmente alentadora a banana que legendas que estão aboletadas no Centrão ou em cargos no governo mesmo sem se assumir como tal, como é o caso do DEM, deram para o capitão em sua cruzada pelo voto impresso (confira aqui), auditável ou como queira se chamar essa empulhação.

Mesmo com a pressão inacreditável feita pelo presidente para forçar a porta desse retrocesso eleitoral, os partidos demonstram que não pretendem cerrar fileiras com ele na disposição de questionar o pleito a depender de seu resultado.

A sombra que Bolsonaro agora lança sobre a lisura do voto eletrônico teve uma contribuição vergonhosa do PSDB, partido que se quer sério e mainstream, quando em 2014 não aceitou a derrota de Aécio Neves para Dilma Rousseff e pediu uma recontagem que não apontou nenhum indício de fraude.

Estava lançado ali o ovo da serpente, e não é por acaso que Bolsonaro busca o caso Aécio como suposto precedente de caso em que as eleições teriam sido adulteradas. O outro, segundo a narrativa falsa que ele vende, seria o dele próprio, que teria vencido, vejam só, no primeiro turno em 2018.

Diante da evidência de que Bolsonaro usará, enquanto puder, a cantilena do voto impresso para ameaçar empastelar a eleição, conversei com um ministro que terá assento no Tribunal Superior Eleitoral no pleito do ano que vem, para o qual as perspectivas são de alta turbulência.

Tranquilo diante da possibilidade de o presidente ser bem sucedido em qualquer quartelada que tente, esse magistrado observou: “Alguém mais rico, mais inteligente e com um partido gigante tentou isso nos Estados Unidos e hoje está em sua réplica do Salão Oval”.

De fato, a firmeza demonstrada pelo Partido Republicano, a despeito de Donald Trump ainda ter uma força considerável na legenda, ao não chancelar os devaneios golpistas do ex-presidente foi uma demonstração de vigor da democracia norte-americana. E não só: a Suprema Corte, o Congresso e as Forças Armadas deixaram o caricato empresário que chegou à Presidência incidentalmente vociferando sozinho. Até o Twitter, plataforma por meio da qual ele mais governou, lhe virou as costas.

No Brasil os partidos são bem menos vertebrados que nos Estados Unidos. A forma como Bolsonaro e os filhos ciscam de terreiro em terreiro dessas siglas de aluguel em busca de uma que aceite recebê-los de porteira fechada é o indicador mais claro dessa falta de espinha dorsal.

Isso só torna mais notável que nem nesse ambiente de completo vale-tudo a ideia maluca do voto auditável encontre público.

Combinada a movimentos cada vez mais ousados dos partidos na CPI da Covid — que caminha a passos céleres para responsabilizar o presidente e seu governo pelas mortes e pelo desastre na pandemia — e em busca de uma opção eleitoral para o ano que vem, a debandada do voto impresso mostra que a blindagem ao presidente, como venho mostrando aqui, terá a duração, a ênfase e a extensão dos ganhos eventuais que esses partidos e seus caciques possam auferir.

Com pesquisas em queda, as ruas gritando “fora genocida” e escândalos de baciada, o preço aumenta e a contabilidade de ganhos e perdas começa a ficar mais apertada que o orçamento do brasileiro diante da inflação galopante.

 

Publicado aqui em O Globo

 

A professora e o bispo: nota 7,5 aos 6 meses de Wladimir

 

Sylvia Paes, Dom Roberto Ferrería Paz, Antonio Roberto Kapi, Wladimir Garotinho e Fábio Ribeiro (Montagem: Joseli Mathias)

 

 

Nota 7,5 ao governo Wladimir

Nota 7,5 aos seis primeiros meses de governo Wladimir Garotinho (PSD). Entre a professora e historiadora Sylvia Paes e o bispo diocesano de Campos, Dom Roberto Ferrería Paz, foi a média da avaliação dos seis primeiros meses (confira aqui) do governo Wladimir Garotinho (PSD), entre as feitas no Folha no Ar de segunda (05) e ontem (06). No programa da Folha FM 98,3, Sylvia abriu a semana sendo mais rigorosa, e deu nota 6 ao desempenho do novo Executivo goitacá. Que elevou sua média de aprovação a partir da nota 8,5 dada pelo líder católico.

 

Sylvia Paes: nota 6

“Avaliar com tão pouco tempo, é difícil. Contudo, (Wladimir) tem se mostrado um aluno bastante presente às aulas. E atento às demandas, que não são fáceis de serem resolvidas. São problemas que vem se agravando desde que o município era rico e não fez planejamento. Saúde, educação, mobilidade, segurança e moradia são problemas sérios. Tem que se priorizar alguns setores, porque não tem como atender todos eles. Eu daria uma nota 6, acreditando que ainda vai melhorar bastante. Sou uma professora bem ruinzinha, mas acredito na competência dos meus alunos. E do atual governo”, apostou Sylvia na manhã de segunda.

 

Dom Roberto: nota 8,5

“Eu daria um 8,5. Ele não encontrou uma situação fácil. E tratou de honrar o compromisso de reabrir o Restaurante Popular. Isso não é uma política pública perfeita, mas ao alimentar os pobres, se pratica o bem, e nós estamos de acordo com isso. Ele é mais acessível, o problema da gestão anterior (de Rafael Diniz, Cidadania) é que houve uma ‘incomunicação’. Então, isso nos dá possibilidades de dialogar. Agora, veremos, porque tem muita coisa que precisa sair do programa. Outra coisa que parece que ele cumpriu, é que seus pais não interferissem. Ele tem todo o direito de construir um caminho próprio” pregou Dom Roberto na manhã de ontem.

 

Polêmica da praça

Outra questão tratada nas entrevistas foi o anúncio do prefeito de uma parceria (confira aqui) com a Associação Evangélica de Campos (AEC) para recuperar o Parque Alberto Sampaio. Que seria chamado de Praça da Bíblia, incluindo o anfiteatro que leva o nome (confira aqui) do falecido diretor teatral Antonio Roberto de Góis Cavalcanti, o Kapi. Após reação da classe artística (confira aqui), o prefeito recuou parcialmente (confira aqui), mantendo o nome de Kapi no anfiteatro, com a divisão do parque entre artistas e religiosos. Na sexta (02) o Conselho Municipal de Cultura (Comcultura) decidiu (confira aqui) pela formação de comissões para acompanhar o projeto no Executivo e no Legislativo, onde ele será votado.

 

Fábio Ribeiro garante Kapi

Presidente do Legislativo goitacá e ouvinte do Folha no Ar, o vereador Fábio Ribeiro (PSD) mandou um áudio durante a entrevista com Sylvia Paes. Que foi nela reproduzido: “A minha proposta não é um pacote fechado e dias (a serem ocupados alternadamente por religiosos e artistas). É sentar com os representantes da AEC e dos artistas, mas não só a AEC, porque não será limitado a uma igreja. E a gente conversar sobre a ocupação, com o Poder Executivo, responsável pelos parques e jardins, como o gestor do espaço. E também, lógico, preservando o nome (de Kapi) ao anfiteatro. Disso aí a gente não abre mão”.

 

Conselhos municipais

Após ouvir o presidente da Câmara, Sylvia comentou: “Bom dia, Fábio! Quem bom que você está aí, atento. Bom também saber que o debate está continuando e, com certeza, teremos bons frutos. Porque todas as decisões sobre o uso do nosso território precisam do espaço de debate. O conflito precisa existir para que as conclusões sejam as melhores. Se não há esse conflito que gera o debate, não vai dar coisa boa. A gestão pública precisa entender que a decisão sobre o espaço público não é apenas dela, o Executivo e o Legislativo. A decisão passa por ouvir os cidadãos de Campos onde eles estão representados, nos conselhos municipais”.

 

A Bíblia e os artistas

Ontem, Dom Roberto também comentou a questão: “Em um estado laico, o espaço público deve ser garantido a todos, sem seletividade. Quando privilegiamos um grupo sobre o todo, estamos privatizando o público. Sendo a Praça da Bíblia, se os irmãos afro-brasileiros quiserem fazer um culto lá, como serão acolhidos? Tem certos setores evangélicos muito hostis aos cultos afro-brasileiros. Se vai reconhecer o teatro como espaço dos artistas, isso é inegociável. A Bíblia é um símbolo religioso que agrupa mais de 80% dos campistas. Mas o símbolo não necessita que tenha uma associação que tome conta do parque inteiro. O parque é público”.

 

Estado e religião

Uruguaio, Dom Roberto ouviu os versos do maior poeta do romantismo brasileiro, Castro Alves: “A praça é do povo/ Como o céu é do condor”. E depois a pergunta: “Se essa parceria fosse proposta à Diocese, o senhor aceitaria?”. Ele respondeu: “Não! Eu chamaria todas as igrejas, seria ecumênica a administração. Faríamos um conselho de igrejas, um conselho de religiões. Ao ser um espaço público, não pode ficar em monopólio de nenhuma igreja. Apesar de ser uma associação de evangélicos, há outras associações da fé. Sempre haverá o problema da exclusão. Eu acredito não ser salutar esse relacionamento entre Estado e religião”.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã

 

Agricultura, Código e Wladimir no Folha no Ar desta 4ª

 

(Arte: Joseli Mathias)

 

A partir da 7h da manhã desta quarta (07), o convidado do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, será o industrial Geraldo Hayen Coutinho, presidente do Sindicato da Indústria Sucroenergética do Estado do Rio de Janeiro (Siserj). Ele falará sobre a crise financeira de Campos (confira a série de 11 painéis da Folha sobre o tema, de julho a setembro de 2020, publicada aquiaquiaquiaquiaqui, aquiaqui, aqui, aquiaqui e aqui) e da retomada da vocação agropecuária do município, apontada como alternativa.

Ele falará também sobre a perspectiva da usina Paraíso, de propriedade da sua família, voltar a moer na próxima safra, e do impacto que isso terá na economia do município. Por fim, Geraldo analisará a proposta do novo Código Tributário e do papel do setor produtivo em sua renegociação, assim como os seis primeiros meses do governo Wladimir Garotinho (PSD).

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta segunda pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.