“Não há soluções mágicas e de curtíssimo prazo. Caso alguém apresente, desconfie”. Em 5 de setembro de 2020, em plena campanha eleitoral, o alerta foi ecoado (confira aqui) na Folha da Manhã pelo reitor do Instituto Federal Fluminense (IFF), professor Jefferson Manhães de Azevedo. Foi em um painel, entre os 11 promovidos (confira aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) pelo jornal de 18 de julho a 26 de setembro, dedicados à busca de soluções para a grave crise financeira de Campos. A advertência do gestor da maior instituição de ensino da região servia não só aos 11 candidatos a prefeito do município, como também aos seus 810 candidatos a vereador. E, a julgar pela semana que se encerra, no momento mais tenso dos cinco primeiros meses dos novos Executivo e Legislativo goitacá, carecerá de melhor entendimento entre os representantes eleitos aos dois Poderes — independentes, mas harmônicos entre si.
Naquela série de painéis da Folha, a voz não foi a do jornal. Tampouco a do reitor do IFF, apenas uma na polifonia de 34 representantes da sociedade civil organizada, entre outros gestores universitários, economistas, sindicalistas, empresários, servidores, juristas, jornalistas, cientistas políticos, antropólogos e sociólogos. A despeito das muitas diferenças de formação e visão entre eles, houve consensos. Não só sobre a gravidade da crise enfrentada desde o final de 2014 por meio milhão de campistas, com a queda nas receitas do petróleo, mas para alternativas a ela: resgate da secular tradição agropecuária do município, adoção integral do pregão eletrônico nas compras do poder público e parceria deste com as universidades.
Esse tipo de respeito às diferenças de experiência e opinião, na busca de consensos mínimos, deveria servir de exemplo. Não só a um Brasil que, também desde 2014, se divide entre petismo e antipetismo, virando o lado do disco em 2018 à bipolaridade entre bolsonarismo e antibolsonarismo. Mesmo que, a cada novo depoimento da CPI da Covid no Senado, seja cada vez mais difícil não classificar como criminosa a condução da pandemia no país. Tanto quanto foi, em passado recente, não enxergar a corrupção sistêmica dos 13 anos do PT no poder, a despeito dos erros também inegáveis da operação Lava Jato. Ou a desastrosa condução nacional da economia no governo Dilma Rousseff. Que não alcança resultados muito melhores agora, nas mãos do liberal Paulo Guedes.
Entre um e outro extremo da política tupiniquim, ressalvado que Lula foi preso sem nunca atentar contra as instituições como Bolsonaro, a lição mais valiosa talvez esteja nos erros do centro. Que, se marchar novamente dividido a mais uma eleição presidencial, como indicam até aqui todas as pesquisas, deve assistir a outro segundo turno entre o lulopetismo — agora com a “lâmpada” no lugar do “poste” — e o bolsonarismo. Do Planalto Central à planície goitacá, políticos jovens como o prefeito Wladimir Garotinho (PSD), o virtual secretário estadual de Governo Rodrigo Bacellar (SD) e o secretário de Ciência e Tecnologia de Niterói, Caio Vianna (PDT), poderiam aprender. E buscar consensos mínimos, no lugar de ter dois se opondo a um pelo que também seriam obrigados a fazer, se as urnas lhes tivessem sorrido. Caso contrário, prevalecerá a ressalva de Mahatma Gandhi: “Olho por olho e acabará todo mundo cego”.
De uma geração anterior à dos três, o presidente da Câmara Municipal Fábio Ribeiro (PSD) parece ter aprendido a lição de uma semana conturbada. Em que, a despeito do governo ter aprovado 12 dos seus 13 projetos, três deles com cortes a servidores, outra contabilidade revela o preço: uma situação que tinha no último domingo 22 vereadores e chega a este sábado com apenas 15. No programa Folha no Ar de ontem, na Folha FM 98,3, falando sobre a aprovação parcial do pacote de Wladimir, Fábio admitiu o erro (confira aqui) de não dar aos seus colegas edis mais tempo para apreciação devida dos projetos. E garantiu que não irá repeti-lo.
O presidente da Câmara faria outro favor ao prefeito se, antes deste esgotar sua complexa pauta administrativa, não desengavetasse mais a pauta política de tentar aprovar retroativamente as contas de 2016 da ex-prefeita Rosinha (Pros). O ex-governador Anthony Garotinho (sem partido) quer porque quer. E, pelo bem do governo do filho, tem que finalmente aprender a ouvir: não!
Publicado hoje (29) na Folha da Manhã